sábado, 31 de dezembro de 2011

Retrospectiva 2011



Foi um ano de muitas novidades e primeiras-vezes.
Iniciei-o em pleno e inédito alto-mar;
Virei calouro de um novo curso superior, em fevereiro;
Tornei-me proprietário de um bem maior que um Playstation em março;
Estudei e trabalhei muito em abril;
Não me lembrei de nada marcante em maio;
Em junho, sucesso futebolístico: comemorei título do meu Vascão depois de anos, e fui tricampeão da Taça Eric Hobsbawn de Futebol, Cultura e Arte, consolidando o time do 2003 United como o maior da História.

Em julho: mudei de emprego, mas não de serviço, que continua sendo público e federal. Criei coragem para começar este blogue. Ri e fiz rir, em uma viagem memorável com as descaralhadas.

Completei minha primeira meia-maratona, na Cidade Maravilhosa, em Agosto;
Não desisti do meu novo curso em setembro, e ganhei uma irmã linda em Outubro.

Em novembro, principiei sozinho minha primeira viagem internacional, e voltei dela com amigos e amigas inesquecíveis;
Cometi minha primeira gafe "jornalística" em dezembro, e terminei o ano com 6 quilos a menos, junto à minha querida família.


Valeu demais!

Relacionamento Sério: A Melhor Opção =/



Vários dias pensando sobre o assunto, duas noites em claro construindo um texto, fazendo o rascunho, preparando os argumentos, amarrando-os de forma lógica e até certo ponto criativa. Texto publicado. Quase tudo perfeito para a consolidação de uma crítica contundente a certo costume disseminado nas redes sociais - o de pessoas escolherem o status denominado "relacionamento sério" para definirem suas relações de "namoro"-, se não fosse por um grande erro de minha parte:

O Erro

Faltou-me, simplesmente, conhecer do objeto. Testar o sistema, verificar as opções fornecidas pelo Facebook (a principal mídia social, e na qual a criticada opção aparece tanto). Tivesse feito isso, constataria que não existe o status "namorando", e portanto, não há alternativa melhor para os enamorados do que o insípido "relacionamento sério" mesmo. Afinal, "noivo(a)" e "casado(a)" servem para outros estágios da paixão; "relacionamento enrolado" e "amizade colorida" são eufemismos de putaria; e viúvo(a), separado(a) ou divorciado(a) representam sofrimento demais para alguém divulgar isso.

A Justificativa

1. Inabilidade com a ferramenta: atire a primeira pedra aquele quem achou em menos de 20 minutos o caminho para trocar o status de relacionamento no Facebook! Aliás, deve ter gente que nunca o encontrou ou sequer sabe que existe. Depois da minha terceira tentativa, confesso que desisti de procurar. Não é fácil achar a caixa de diálogo que fornece as possibilidades de definição do relacionamento. Ainda nesse sentido e em minha defesa, é sabido que o próprio co-fundador da mídia, Eduardo Saverin, teve problemas com sua namorada por não conseguir mudar sua situação de solteiro para alguma que revelasse seu compromisso com a moça.

2. Transposição de mídias: se não existe no Facebook, o status "namorando" sempre esteve firme e forte no Orkut, onde apareceu primeiro e marcou presença no imaginário dos internautas brasileiros. Parecia óbvio que as opções fossem as mesmas para ambas as redes, mas as traduções diversificaram e nos deram a chance de escolhermos também entre amizade colorida, no Facebook, ou casamento aberto (???) no Orkut. De qualquer forma, eu não podia achar que as mídias se equivalessem em qualquer aspecto.

A Retratação

Eis então que venho por meio desta nota retratar-me perante os milhões de casais de namorados brasileiros, ofendidos por minha crítica descabida e infundada às suas supostas péssimas escolhas de autodivulgação de relacionamentos em redes sociais, em particular à do facebook. Conforme visto, lá não há alternativa digna dos nossos costumes. Tenho medo que um dia tenhamos que escolher "Em uma data" para mostrar que estamos namorando alguém.

O Aprendizado

Fiz questão de manter a postagem anterior, coerente e plausível na sua construção - pronta a formar uma opinião - porém viciada em sua própria materialidade, sem objeto válido que a sustentasse. Que sirva de exemplo, ainda que simples e elementar, dos perigos e delicadezas de quem lida com informação, seja produzindo ou consumindo-a. O blogue vai cumprindo assim sua função didática vislumbrada lá nos primeiros rabiscos.

domingo, 25 de dezembro de 2011

A Hipocrisia do Relacionamento Sério

 
É interessante constatar nas redes banais (sociais) o grande número de casais que definem sua situação amorosa como "em relacionamento sério". Afinal, o que isso significa?

Segundo o Maicon (dicionário Michaelis), relacionamento é o ato ou efeito de se relacionar. Sério, como adjetivo, tem acepções que vão desde algo honesto, de confiança, passando por características de disposição, aparência ou maneiras graves, sisudas, até chegar a algo que não é alegre, nem leviano ou frívolo.Mas um relacionamento, ainda mais do tipo amoroso/ afetivo, não deveria ser justamente algo leve, alegre, e tranquilo?

O engraçado é que pessoas que já estão namorando, há muito ou pouco tempo, outras que estão praticamente casadas; humanóides de todas as etnias, classes sociais e opções sexuais, estão colocando esse "status" que parece mais servir pra definir uma relação profissional do que pessoal. Afinal, relacionamento sério é o que se tem com seu chefe, colegas de trabalho, clientes: há diversas interações interpessoais constantemente regidas por códigos de conduta específicos para cada relação. Sexo? Só no sentido figurado: se fizer coisa errada, seu chefe pode te f. por isso.

De ordem mais pessoal, o casamento sim seria um relacionamento sério, com contrato assinado, testemunha e tudo. A relação entre pais e filhos é outro exemplo. A despeito do carinho e afeto que pode haver, nosso Código Civil traz uma série de obrigações e responsabilidades recíprocas que vão desde o nascimento destes, até além da morte daqueles.

Mas enfim, por que casais de namorados não colocam que estão namorando ao se autopromoverem nas redes? Seria uma espécie de medo, vergonha, precaução? Não sei. Não entendo. Talvez porque tenha amor no significante "nAMORando". As pessoas custam a se envolver emocionalmente, daí a exibirem-se demais perto desse sentimento... É um custo assumir publicamente que estão envolvidos com essa "coisa", ainda mais com a possibilidade de não dar certo diante dos olhos dos outros. Já a outra opção parece mais um compromisso, um acordo, um ato mais racional. Se der errado, tudo bem, é só desfazer a escolha. Ironicamente, o grande número de trocas – dentro do perfil de uma mesma pessoa – do status  "em relacionamento" para "solteiro" (e vice-versa) acaba evidenciando que essas relações não são nada sérias mesmo.

Mas namorar é isso: é errar, é tentar, é buscar. Não é nada mais, nada menos que:

na.mo.rar vtd 1 Esforçar-se para conseguir o amor de; cortejar, galantear. 2 Atrair, cativar, seduzir, inspirar amor a. vint 3 Andar em galanteios. vpr 4 Tornar-se enamorado; 5 Agradar-se, ficar encantado. vtd 6 Desejar possuir, cobiçar. vtd 7 Fitar com afeto e insistência. vtd 8 Empregar todos os esforços para obter.

(2011, Editoria Melhoramentos Ltda., Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Nunca Tive um Guarda-Chuva!


Chego ao local de trabalho com as marcas de chuva dando textura à camisa lisa e sem graça que estava usando, quando uma colega pergunta: “Você esqueceu o guarda-chuva?”

Eu poderia responder simplesmente que sim, assumir um erro, deixar evidente que ocorrera um lapso de planejamento para dias tão chuvosos em Brasília. Mas a questão me fez pesquisar rapidamente toda minha experiência com tal objeto, e assim pude responder, categórico: “Não esqueci. Eu nunca tive guarda-chuva!”
Satisfeita a curiosidade da minha colega, fui atrás da minha, provocada por uma Marília Gabriela imaginária que indagou: “Pórr quÊ?” Por que diabos eu praticamente nunca fiz uso desse utensílio tão comumente usado – com suas variações tecnológicas, desde os tempos mais remotos, pelas mais diversas culturas? Nessa entrevista que se iniciou, percorri todo o passado em busca das razões que pudessem explicar possível idiossincrasia.

S.B.: - Então Gabi... Não sei... [pensativo, enrolando o topete com os dedos]. Nunca fui milionário, mas posso dizer também que não sofri na vida em termos de conforto, segurança, etc. Quando criança, sempre fui carregado pra cima e pra baixo de carro pelos meus parentes. No dia-a-dia, o máximo que ficava sujeito às intempéries eram os poucos segundos e metros que separavam a porta do carro do portão da escola. Talvez seja por aí, o começo de tudo.

M.G.: -Eu vi aqui que você é historiador, não é?

S.B.: - Não!... Sou formado em História. Não me considero historiador porque não tenho a honra e o prazer de praticar essa arte, esse ofício.

M.G.: -Mas deve conhecer Karl Marx, que tinha uma interpretação da História baseada na questão material, econômica, não é?

S.B: - Conheço um bocado sim, grande Carlos Marques! [risos, solitário] É como chamo o velho barbudo.  Mas tá certa. É por aí sim.

M.G.: - Então poderia dizer que essa sua condição material, esse fator sócio-econômico privilegiado, foi determinante na sua negação ao guarda-chuva?

S.B.: - Não necessariamente. Se eu tivesse respondendo isso ao Carlitos, talvez gostasse da explicação, mas nem ele se daria por satisfeito. Tudo que envolve o ser humano é complicado. Basta lembrar, inclusive, que na Mesopotâmia e Egito antigos o uso do então guarda-sol era restrito às pessoas do alto escalão, cuja distinção, por sua vez, era baseada em critério político ou religioso. Mesmo mais tarde, na era moderna européia, quando mais disseminado e tendo comprovada utilidade, o já portátil e pessoal guarda-chuva (trazido da China) sofreu com o preconceito de gênero: era considerado coisa de mulher, perpetuando uma tradição cultural greco-romana que abolia o uso, pelos homens, de artefatos para se proteger do clima. Enfim, cada caso, mesmo o mais simples, merece uma investigação cuidadosa e envolvente, abrangendo todos os possíveis e plausíveis fatores, espalhados pelo espaço e pelo tempo.

M.G.: - Falando em espaço e tempo, você viveu a infância e adolescência em Uberlândia. Aos 17, foi morar em Brasília, que todos sabem, é muito seca. Por acaso em Uberlândia não chove muito? Talvez seja essa a razão?

S.B.: - Não, não! Uberlândia não é uma Londres, mas chove sim, e chove muito. Basta lembrar que a cidade só aparece nos telejornais nacionais pra exibir os estragos das inundações. E Brasília não é seca o ano todo. Inclusive, já ouvi de geógrafos que é proibido afirmar, tecnicamente, que o clima de Brasília é seco. Não lembro agora, mas tem o adjetivo úmido ou semi-úmido na definição oficial do nosso clima lá, então...

M.G.: ...não é pela geografia que iremos continuar...
(pausa)

S.B.: ...Mas foi bom você ter mencionado o tempo da adolescência, porque já foi uma época em que comecei a [faz sinal de aspas com as mãos] desmamar das caronas parentais. Comecei experimentando o ônibus, que era da linha particular do colégio, e passava pertin de casa. Depois passei pro coletivo, o público mesmo, aquele que te deixa longe do local desejado. Mas foi quando mudei de casa, e fui morar perto do centro, que virei bicho-solto:...virei pedestre

M.G.: E ainda assim não utilizava o guarda-chuva?
S.B.: Não.
M.G.: E o que fazia quando chovia?
S.B.: Daí eu tinha um bom motivo pra pedir carona [risos]. Ou pra deixar de ir ao inglês [risos X2].
M.G.: E como fazia com seus compromissos, com o colégio, o inglês?

S.B.: [volta à fisionomia séria. Olhando pra baixo, tenta relembrar...] Mas nem era isso que acontecia na maioria das vezes. Sempre fui muito responsável. Quando chovia eu sei lá,... deixava a chuva passar, esperava ela diminuir... corria no meio dela, seguia seu ritmo, me molhava um pouco.  Ia me abrigando a cada teto encontrado pela rua,... As árvores. Me molhava um pouco, não me importava.

M.G.: [conferindo suas anotações sobre a mesa] Humm... Eu vi aqui que você utilizou as palavras; os verbos, melhor dizendo: “deixar”, “esperar”, "seguir",“não se importar”. Posso afirmar então que você adota, assume uma postura passiva diante dos acontecimentos, das circunstâncias, quem sabe até, da vida?

S.B.: [desconcertado] Dito assim parece pejorativo. E não dá pra generalizar assim, extrapolar de um caso particular ao geral sem analisarmos mais situações. [quase bravo] Então eu não assumo isso não... [mais calmo]... Prefiro dizer que tenho uma atitude despretensiosa em relação a certas coisas, que sou despreocupado, tranqüilo. Isso eu assumo! Pô, e passividade não é necessariamente um atributo ruim. Passividade tem a ver com paz, e com receber. Duas coisas que podem ser consideradas boas, não?

Por exemplo, a própria vida. Eu não pedi pra nascer, não me lembro de ter deliberadamente requisitado isso. No entanto ela me foi dada, e a estou aproveitando. Também não nasci pra ir, não quis ir à escola, nem pedi pra fazer inglês, espanhol, etc. Mas fui colocado nisso tudo e recebi conhecimento valioso das mais diversas ciências, legado de tantos outros seres humanos, e ainda posso me comunicar com mais pessoas hoje que não só as que falam português. Enfim...

M.G.: Você alguma vez já usou um guarda-chu...[interrompida]

S.B.: ...Cobram incessantemente que tenhamos atitude pra tudo, que controlemos todas as circunstâncias, que resolvamos todos os problemas.  Com a chuva é a mesma coisa. Não é que eu seja passivo em relação ao problema da chuva. É que eu nem mesmo a considero um problema.

Satisfeito, abandonei a entrevista, e comecei a trabalhar.
 ...

Crédito de imagens: Wikimedia Commons

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Cinema é par!


Depois de um bom tempo solteiro e naturalmente afastado das salas de cinema, resolvi voltar às telonas, ainda que sozinho. Por mais que seja possível enfrentar aquela escuridão assim, convenhamos, esse programa não é para ser feito só.

O sofrimento começa já na fila para comprar os ingressos. Ops!... O ingresso (aliás, nem isso, porque é meia-entrada). Você percebe que está sem uma metade quando casais recém-formados ficam se pegando loucamente bem na sua frente. É beijo de cinema, de causar inveja, antes de começar o filme.

A parte mineira de minha pessoa faz-me chegar cedo pra poder escolher um dos melhores lugares da sala, aproveitando que hoje em dia é possível comprar ingresso com lugar marcado. Na hora de escolhê-lo, começa a ficar claro que a lógica do cinema é par. A quantidade de poltronas em cada fileira é sempre um número divisível por 2, com resultado inteiro e resto zero. Indo sozinho, você corrompe essa lógica, e possivelmente deixa um casal deslocado ou separado, ainda mais em dias de sessão cheia. Mas eles não se desgrudam, não se entregam facilmente, e vão sentar-se juntos lá debaixo da tela, com direito a legenda na cara e torcicolo. Resultado: a poltrona que era pra ser de seu par, ficará vazia. Uma poltrona vazia em pleno altiplano do cinema; lugar nobre, desocupado; um sorriso que era pra ser pleno, sem um dente, sem gente.

Na outra fila, a da pipoca, todos os preços e tamanhos expostos no painel acima e atrás do balcão mostram que você será um idiota se não escolher o combo ultra-mega-super-grande, que é praticamente o mesmo preço do saquinho de pipoca que vem com uma balinha. Não tive escolha, não há escolha. Comprei o maior. Abracei o saco de pipoca com um braço, o balde de refrigerante com o outro, e dirigi-me à entrada. Sem piedade, o "conferidor de bilhetes" exigiu-me a apresentação da carteira de estudante, como se já não tivesse os membros superiores totalmente ocupados – como se eu tivesse alguém para me ajudar.

Malabarismos feitos, consegui entrar e ocupar meu lugar milimetricamente e antecipadamente escolhido, horizontalmente centralizado, alinhado verticalmente a uns 2/3 da altura da tela. Instalo-me tranquilamente, as luzes se apagam, começam as propagandas e trailers. Cogito algumas vantagens de ter ido sem companhia: a pipoca será toda minha, e poderei concentrar-me totalmente, sem desvios, sem preocupações, no filme que enfim se inicia.

Ledo engano. A gula e o egoísmo não poderiam passar ilesos. Os que me conhecem sabem que não tenho limites quando o assunto é comer. Mas enfrentar a empreitada de um saco tamanho papai noel de pipoca sozinho é desumano, além de um pecado, daqueles que você promete nunca mais cometer, mesmo sem ter religião. O refrigerante gigante utilizado para refrescar e abrir espaço interno também gera consequências: é necessário ir ao banheiro. Quando estou vendo filmes de super-heróis ou animação, resisto heroicamente à vontade. Mas não era este o caso, e perdi minutos preciosos da trama – mesmo tendo corrido (sim, literalmente, faço isso. Afinal, aqueles "corredores" servem pra quê?!) na ida ao W.C. Na volta, ninguém me esperando pra contar o que perdi, o que aconteceu. A atenção total prometida ao filme foi por água abaixo.

Fim da sessão, não do sofrimento. Casais de mãos dadas ocupam a escadaria (cujos degraus também são estruturados aos pares) e formam a base do fluxo da saída. Ocupar seu espaço é difícil, ultrapassá-los, impossível. Solitário no fluxo, você ainda atrapalha a cômoda descida lado a lado deles, uma vez que o espaço livre gerado por sua falta de companhia será ocupado inadvertidamente por algum elemento de um casal, deslocando o outro(a) para trás de si, colocando em risco de pisoteamento seus próprios calcanhares – risco preferível a desgrudarem as mãos.

O pior vem quando, lá fora, já livre do aperto e do tumulto, você olha para o lado e não vê ninguém para dar vazão àquela necessidade tão humana de se comunicar, de comentar sobre o filme, de criticá-lo, de mostrar o quanto você sabe que nos quadrinhos o Homem-Aranha não é tão idiota, que na história medieval os cavaleiros não eram tão altos, fortes e limpos; ou de simplesmente dizer se gostou ou não, se foi boa ou ruim a experiência ímpar de fantasia permitida nas duas hora de cinema.

sábado, 22 de outubro de 2011

Kant e a Coca



Em estudos recentes sobre Ética e Moral na faculdade, deparamo-nos com a clássica formulação do imperativo categórico de Immanuel Kant: "age de tal maneira que possas ao mesmo tempo querer que a máxima da tua vontade se torne lei universal". Baseado em uma concepção do ser humano racional e livre, daí viria o seu agir necessário e universal.

As críticas a Kant também foram relembradas, evidenciando o caráter individualista e pouco prático de sua teoria (baseada em uma razão tão pura e racional que nem existiria, desprendida da história, da cultura e tradições). Mas o problema com o individualismo foi o que pegou em sala de aula, e a principal questão que ficou foi: "a ética/ moral na sociedade poderia depender da consciência e ação de cada indivíduo?"

Eu respondi que sim, oras! Para que o bem e o bom se tornem regra no mundo, podemos contar sim com as ações individuais. Caso contrário, o caos prevaleceria, a vida em sociedade não seria possível. E não me venham dizer que são o Estado e a Lei que a promovem ou garantem. Ninguém age assim ou assado por conta de um código escrito. É muito mais o que pensamos e como agimos em termos de certo e errado, bem e mal, nas diversas situações da vida. Ainda que a origem desses valores venha de fora (da cultura, da família, da história), é na ação individual que a ética se realiza, se perpetua ou se modifica.

É por isso que fico tranquilo em depender das pessoas. Não é preciso averiguar e comparar os números da produção de tanque e bichinhos de pelúcia pelo mundo, ou saber se para cada corrupto existem não sei quantos mil doadores de sangue. A Coca-Cola está certa: os bons são maioria. Em seu recente e bem sucedido comercial, ela não revelou qualquer segredo, antes se apropriou da condição de existência da humanidade: os bons têm que ser maioria!



domingo, 28 de agosto de 2011

21km e a Vida



Consegui! No domingo passado, atingi meu objetivo de terminar a Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro. Uma experiência única na minha vida, até então.

Antes da prova, a preparação consistiu em evitar os excessos possíveis em uma cidade como o Rio de Janeiro. Na companhia de meu pai, irmão, familiares e amigos, sexta à noite foi de apenas três chopes e duas "pescoços-longos" entre um restaurante árabe, em Copacabana, e uma despretensiosa calçada de bar na Lapa. Sábado de manhã, aproveitamos os últimos instantes de sol na praia de Ipanema. Depois, feijoada pro almoço, e chuva pro resto do fim de semana.

A chuva - acompanhada do frio - foi providencial para acalmar os ânimos deste novato e vislumbrado turista na cidade, além de criar as condições climáticas perfeitas para a corrida no dia seguinte. Assim, o sábado à noite foi de pizza (necessária nutricionalmente) e recolhimento ao hotel. No domingo pela manhã, nem acreditei que o despertador estava tocando tão alto e tão cedo. A ansiedade que já não me deixara dormir direito, continuou até o início da prova - quando finalmente, colocado em movimento, tudo começou a passar.

Antes dos primeiros passos, meu pai deu as últimas instruções de quando e como usar os suplementos alimentares (sachês de carboidrato em gel e comprimidos de vitaminas e sais minerais). Ainda estava em dúvida se levaria ou não meu ipod, pois não gosto de correr com muitos apetrechos, ainda mais de ficar brigando com fones de ouvidos que sempre escorregam. Acabei levando, e a decisão acabaria se tornando acertada: Bob Dylan, Rolling Stones e outros artistas me ajudaram a embalar os passos, deram ritmo e fizeram companhia.

Passei pelos primeiros quilômetros com cautela e tranquilidade, controlando a empolgação da largada. Sabia que não podia gastar tudo ali. Então, aproveitei o engarrafamento de corredores para ir devagar, enquanto subia a encosta do Vidigal, e vislumbrava as primeiras paisagens do percurso. Crianças da favela local ficavam nas muretas à beira da pista com as mão esticadas a dar aquele toque e incentivos aos corredores. Muito legal, estapeei a mão de umas cinco enquanto seguia pela extrema direita do asfalto, curtindo o "marzão" visto lá de cima.

Lá pelos quilômetros 4 e 5, já descendo rumo a Leblon e Ipanema, o rim direito começou a arder, o pé esquerdo a ficar dormente. Tudo isso era previsto, esses problemas já me acompanhavam nos treinos casuais. Só achei que era cedo demais pra eles começarem a me perturbar. Em Ipanema mais pessoas incentivando, apoiando. Torcedores do Vasco começavam a reconhecer minha homenagem ao clube no dia de seu aniversário e gritavam o nome do time por onde passava.

Quando cheguei à marca de 10km, já em Copacabana, conferi o cronômetro e vi que 1 hora já tinha se passado, junto com as dores. Estava aquecido e bem, pensei: "Bom, agora só falta fazer tudo que eu já sei". E lá fui eu pros 11km restantes, reabastecido de carboidratos, vitaminas e etceteras.

Faltando 6km, lá pelo Flamengo, é possível avistar a galera chegando do outro lado da avenida, o que dá uma sensação ilusória de que o fim está próximo. E não está! Mesmo assim, apertei o ritmo. Já estava confiante que conseguiria chegar, então resolvi incrementar meu desafio com velocidade, e me senti o máximo ultrapassando um bocado de gente. Mas 6km é chão "mermão"! A 2km do fim as dores apareceram e o esforço extra pesou. Tive que maneirar. A aleatoriedade do ipod me ajudou - com Bob Marley - a diminuir o ritmo e curtir o momento.
 
No último quilômetro, o paradoxo do fim: a ideia era terminar a prova, mas eu não queria que tudo aquilo acabasse. Um passeio por toda aquela natureza, por sua vez originado da minha própria, do movimento insistente e incessante do meu corpo, do jogo de ação e reação entre meus pés e o ambiente, trouxe uma sensação indescritível de saúde e bem estar. Estava feliz... E involuntariamente, eu que nem sou religioso, cruzei a linha de chegada imitando o monumental Cristo da cidade: de braços abertos, me rendi à vida. Muito obrigado!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

21km ou a Morte (parte 1)


O próximo domingo, 21 de agosto, será especial! Além de aniversário do Clube de Regatas Vasco da Gama, será dia de um grande desafio pessoal nas ruas do Rio de Janeiro: correr os 21 quilômetros de sua Meia Maratona Internacional.

A inscrição foi paga, as passagens aéreas emitidas, o hotel reservado. É... não vai ter como fugir. Devo estar lá já no dia 19, sexta-feira, para aproveitar um pouco da cidade maravilhosa. E se o Rio de Janeiro não atrapalhar, estarei acordado, alongando e me aquecendo às 8 da manhã de domingo para a largada na praia de São Conrado, início dos 21.097 metros até o Aterro do Flamengo.

A princípio não encararia esse tanto de chão - vale lembrar, à pé - se não fosse pra fugir de alguém ou algo me ameaçando de morte. Muitos sabem que pratico a corrida na boa, como meio, apenas uma forma de manter-me em forma, e fazer outras coisas mais interessantes com o corpo. Já cheguei a correr 10km em algumas provinhas aqui por Brasília. Mas nunca fui viciado, apaixonado pela corrida em si. Inclusive, iria ao Rio só para aproveitar a cidade e acompanhar meu pai (este sim, super-e-multi-atleta).

Mas eis que de tanto praticar, tomo gosto pela coisa, e de simples ferramenta para o corpo, a corrida torna-se objetivo do espírito, necessidade da alma. E agora lanço-me o desafio: fazer o que nunca fiz. Superar limites desconhecidos. Correr 21km neste 21 de agosto de 2011.

O resultado... só semana que vem, se eu estiver vivo.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Meia-Noite na Geladeira

Não se trata de um simples crime, mais um assalto à geladeira tarde da noite. Já tinha passado da hora zero no relógio de ontem, quando fui à procura de qualquer coisa que estivesse pronta e disponível a saciar minha fome e minha preguiça de preparar algo.
Com essas características, um copaço de um denso suco vermelho surgiu diante dos olhos como a melhor, a única opção. Sua boca estava protegida por papel alumínio, adicionando ares de segurança e higiene na escolha já feita. Minha mão direita já se aproximava esticada o tanto certo para catar o copo quando, sobre ele, deparo-me com aquela cena... Um casal de insetos “transando”!!!
Micro-insetos, na verdade, pois eram tão pequeninhos, achatados e redondinhos que primeiro eu tive que exercitar a velha brincadeira do “o que-é, o que-é?” para descobrir o que eram dois pontinhos pretos sobre uma superfície metálica. Aproximando os olhos, vi um insetinho em cima de uma insetinha, em cima do meu suco. Peguei-os no flagra!
E não me venham os cientistas da natureza dizer que insetos e outros animais não transam, que não sentem prazer, que só se reproduzem, no máximo copulam. Oras! O que diabos um casal de insetos estava fazendo em plena meia-noite no escurinho da geladeira, sobre edredons de prata e colchão líquido de morango!?
Infelizmente, para descobrir o segredo do afrodisíaco sabor do suco, tive que interromper o momento a sós dos bichinhos. A cadeia alimentar se fez presente, o mais forte impôs sua vontade, sua necessidade. Os mais sensíveis não precisam se preocupar: não os comi, nem os matei. Dei-lhes algum tempo ainda quando assumi posição de voyeur frente àquela curiosa cena de sexo explícito. Mas tadinhos, eles ficaram constrangidos e cada um saiu prum lado, vagarosamente, talvez envergonhados – mas com certeza putos da vida comigo.
Se houver justiça nesse mundo, hoje devo sofrer as conseqüências gastro-intestinais por ter bebido aquele suco. E se passar mal, não será por conta de qualquer tipo de contaminação naturalmente causada por aquelas pequeninas pragas.  A condenação ainda virá de uma praga, mas a maldição, sobrenatural, lançada pelo casal sobre mim momentos após eu ter lhes cometido este indesculpável crime: acabar com sua planejada noite de amor.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Rabisco...

É preciso começar. Escrever de qualquer jeito. Dar o primeiro e errante passo. Sem assunto, sem referências, notas de rodapé ou frases de efeito trazidas das aspas de outrem. Não é preciso invocar as musas, pedir-lhes inspiração. Elas devem ter mais o que fazer do que assistir um blogue nascer. Nem era preciso usar "outrem", invocado demais.

Não sei que tipo de blogue este aqui se tornará. Pelo (meu) nome que lhe dei ao registrá-lo, parece que vai ser pessoal: deverá servir de registro e expressão de pensamentos, opiniões, constatações e confabulações personalíssimas sobre... nem sei o quê. E ainda não é hora disso, tadinho. Os temas surgirão, não se preocupe! E quem sabe um dia tome gosto por algum assunto em especial, e dele faça um ofício de gente grande.

O importante agora é tirar esse corpo de texto de seu estado inercial sem movimento. Impulsioná-lo, tal qual se faz com um barquinho de papel, e deixá-lo seguir por aí nessas imprevisíveis ondas da internet.

Pode até conter essa construção metafórica brega e banal do último parágrafo. Mas é isso. Não dá pra esperar o momento certo, adquirir o domínio de todas as técnicas de redação, das teorias da comunicação, da ordem do discurso. Afinal, talvez nem com toda uma vida isso seja possível.

O texto inicial não poderia ser genial. Só tinha que ser. Qualquer coisa, besta mesmo; despretensioso e imperfeito. Um teste do canal, um rabisco num papel.