terça-feira, 26 de julho de 2011

Meia-Noite na Geladeira

Não se trata de um simples crime, mais um assalto à geladeira tarde da noite. Já tinha passado da hora zero no relógio de ontem, quando fui à procura de qualquer coisa que estivesse pronta e disponível a saciar minha fome e minha preguiça de preparar algo.
Com essas características, um copaço de um denso suco vermelho surgiu diante dos olhos como a melhor, a única opção. Sua boca estava protegida por papel alumínio, adicionando ares de segurança e higiene na escolha já feita. Minha mão direita já se aproximava esticada o tanto certo para catar o copo quando, sobre ele, deparo-me com aquela cena... Um casal de insetos “transando”!!!
Micro-insetos, na verdade, pois eram tão pequeninhos, achatados e redondinhos que primeiro eu tive que exercitar a velha brincadeira do “o que-é, o que-é?” para descobrir o que eram dois pontinhos pretos sobre uma superfície metálica. Aproximando os olhos, vi um insetinho em cima de uma insetinha, em cima do meu suco. Peguei-os no flagra!
E não me venham os cientistas da natureza dizer que insetos e outros animais não transam, que não sentem prazer, que só se reproduzem, no máximo copulam. Oras! O que diabos um casal de insetos estava fazendo em plena meia-noite no escurinho da geladeira, sobre edredons de prata e colchão líquido de morango!?
Infelizmente, para descobrir o segredo do afrodisíaco sabor do suco, tive que interromper o momento a sós dos bichinhos. A cadeia alimentar se fez presente, o mais forte impôs sua vontade, sua necessidade. Os mais sensíveis não precisam se preocupar: não os comi, nem os matei. Dei-lhes algum tempo ainda quando assumi posição de voyeur frente àquela curiosa cena de sexo explícito. Mas tadinhos, eles ficaram constrangidos e cada um saiu prum lado, vagarosamente, talvez envergonhados – mas com certeza putos da vida comigo.
Se houver justiça nesse mundo, hoje devo sofrer as conseqüências gastro-intestinais por ter bebido aquele suco. E se passar mal, não será por conta de qualquer tipo de contaminação naturalmente causada por aquelas pequeninas pragas.  A condenação ainda virá de uma praga, mas a maldição, sobrenatural, lançada pelo casal sobre mim momentos após eu ter lhes cometido este indesculpável crime: acabar com sua planejada noite de amor.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Rabisco...

É preciso começar. Escrever de qualquer jeito. Dar o primeiro e errante passo. Sem assunto, sem referências, notas de rodapé ou frases de efeito trazidas das aspas de outrem. Não é preciso invocar as musas, pedir-lhes inspiração. Elas devem ter mais o que fazer do que assistir um blogue nascer. Nem era preciso usar "outrem", invocado demais.

Não sei que tipo de blogue este aqui se tornará. Pelo (meu) nome que lhe dei ao registrá-lo, parece que vai ser pessoal: deverá servir de registro e expressão de pensamentos, opiniões, constatações e confabulações personalíssimas sobre... nem sei o quê. E ainda não é hora disso, tadinho. Os temas surgirão, não se preocupe! E quem sabe um dia tome gosto por algum assunto em especial, e dele faça um ofício de gente grande.

O importante agora é tirar esse corpo de texto de seu estado inercial sem movimento. Impulsioná-lo, tal qual se faz com um barquinho de papel, e deixá-lo seguir por aí nessas imprevisíveis ondas da internet.

Pode até conter essa construção metafórica brega e banal do último parágrafo. Mas é isso. Não dá pra esperar o momento certo, adquirir o domínio de todas as técnicas de redação, das teorias da comunicação, da ordem do discurso. Afinal, talvez nem com toda uma vida isso seja possível.

O texto inicial não poderia ser genial. Só tinha que ser. Qualquer coisa, besta mesmo; despretensioso e imperfeito. Um teste do canal, um rabisco num papel.