domingo, 28 de agosto de 2011

21km e a Vida



Consegui! No domingo passado, atingi meu objetivo de terminar a Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro. Uma experiência única na minha vida, até então.

Antes da prova, a preparação consistiu em evitar os excessos possíveis em uma cidade como o Rio de Janeiro. Na companhia de meu pai, irmão, familiares e amigos, sexta à noite foi de apenas três chopes e duas "pescoços-longos" entre um restaurante árabe, em Copacabana, e uma despretensiosa calçada de bar na Lapa. Sábado de manhã, aproveitamos os últimos instantes de sol na praia de Ipanema. Depois, feijoada pro almoço, e chuva pro resto do fim de semana.

A chuva - acompanhada do frio - foi providencial para acalmar os ânimos deste novato e vislumbrado turista na cidade, além de criar as condições climáticas perfeitas para a corrida no dia seguinte. Assim, o sábado à noite foi de pizza (necessária nutricionalmente) e recolhimento ao hotel. No domingo pela manhã, nem acreditei que o despertador estava tocando tão alto e tão cedo. A ansiedade que já não me deixara dormir direito, continuou até o início da prova - quando finalmente, colocado em movimento, tudo começou a passar.

Antes dos primeiros passos, meu pai deu as últimas instruções de quando e como usar os suplementos alimentares (sachês de carboidrato em gel e comprimidos de vitaminas e sais minerais). Ainda estava em dúvida se levaria ou não meu ipod, pois não gosto de correr com muitos apetrechos, ainda mais de ficar brigando com fones de ouvidos que sempre escorregam. Acabei levando, e a decisão acabaria se tornando acertada: Bob Dylan, Rolling Stones e outros artistas me ajudaram a embalar os passos, deram ritmo e fizeram companhia.

Passei pelos primeiros quilômetros com cautela e tranquilidade, controlando a empolgação da largada. Sabia que não podia gastar tudo ali. Então, aproveitei o engarrafamento de corredores para ir devagar, enquanto subia a encosta do Vidigal, e vislumbrava as primeiras paisagens do percurso. Crianças da favela local ficavam nas muretas à beira da pista com as mão esticadas a dar aquele toque e incentivos aos corredores. Muito legal, estapeei a mão de umas cinco enquanto seguia pela extrema direita do asfalto, curtindo o "marzão" visto lá de cima.

Lá pelos quilômetros 4 e 5, já descendo rumo a Leblon e Ipanema, o rim direito começou a arder, o pé esquerdo a ficar dormente. Tudo isso era previsto, esses problemas já me acompanhavam nos treinos casuais. Só achei que era cedo demais pra eles começarem a me perturbar. Em Ipanema mais pessoas incentivando, apoiando. Torcedores do Vasco começavam a reconhecer minha homenagem ao clube no dia de seu aniversário e gritavam o nome do time por onde passava.

Quando cheguei à marca de 10km, já em Copacabana, conferi o cronômetro e vi que 1 hora já tinha se passado, junto com as dores. Estava aquecido e bem, pensei: "Bom, agora só falta fazer tudo que eu já sei". E lá fui eu pros 11km restantes, reabastecido de carboidratos, vitaminas e etceteras.

Faltando 6km, lá pelo Flamengo, é possível avistar a galera chegando do outro lado da avenida, o que dá uma sensação ilusória de que o fim está próximo. E não está! Mesmo assim, apertei o ritmo. Já estava confiante que conseguiria chegar, então resolvi incrementar meu desafio com velocidade, e me senti o máximo ultrapassando um bocado de gente. Mas 6km é chão "mermão"! A 2km do fim as dores apareceram e o esforço extra pesou. Tive que maneirar. A aleatoriedade do ipod me ajudou - com Bob Marley - a diminuir o ritmo e curtir o momento.
 
No último quilômetro, o paradoxo do fim: a ideia era terminar a prova, mas eu não queria que tudo aquilo acabasse. Um passeio por toda aquela natureza, por sua vez originado da minha própria, do movimento insistente e incessante do meu corpo, do jogo de ação e reação entre meus pés e o ambiente, trouxe uma sensação indescritível de saúde e bem estar. Estava feliz... E involuntariamente, eu que nem sou religioso, cruzei a linha de chegada imitando o monumental Cristo da cidade: de braços abertos, me rendi à vida. Muito obrigado!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

21km ou a Morte (parte 1)


O próximo domingo, 21 de agosto, será especial! Além de aniversário do Clube de Regatas Vasco da Gama, será dia de um grande desafio pessoal nas ruas do Rio de Janeiro: correr os 21 quilômetros de sua Meia Maratona Internacional.

A inscrição foi paga, as passagens aéreas emitidas, o hotel reservado. É... não vai ter como fugir. Devo estar lá já no dia 19, sexta-feira, para aproveitar um pouco da cidade maravilhosa. E se o Rio de Janeiro não atrapalhar, estarei acordado, alongando e me aquecendo às 8 da manhã de domingo para a largada na praia de São Conrado, início dos 21.097 metros até o Aterro do Flamengo.

A princípio não encararia esse tanto de chão - vale lembrar, à pé - se não fosse pra fugir de alguém ou algo me ameaçando de morte. Muitos sabem que pratico a corrida na boa, como meio, apenas uma forma de manter-me em forma, e fazer outras coisas mais interessantes com o corpo. Já cheguei a correr 10km em algumas provinhas aqui por Brasília. Mas nunca fui viciado, apaixonado pela corrida em si. Inclusive, iria ao Rio só para aproveitar a cidade e acompanhar meu pai (este sim, super-e-multi-atleta).

Mas eis que de tanto praticar, tomo gosto pela coisa, e de simples ferramenta para o corpo, a corrida torna-se objetivo do espírito, necessidade da alma. E agora lanço-me o desafio: fazer o que nunca fiz. Superar limites desconhecidos. Correr 21km neste 21 de agosto de 2011.

O resultado... só semana que vem, se eu estiver vivo.