quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Dia de Mudança


Hoje foi dia de rompimento com uma prática tradicional, impensada, automática e coerciva. Hoje passei o fio dental antes de escovar os dentes.

Sempre fui ensinado a escovar os dentes e depois passar o fio dental. Mas nesta data, coincidentemente, dia do dentista, superei isso.

Não estou só. Há tempos observo companheiros de banheiros públicos, com quem divido as mesmas pias na tarefa diária da higiene bucal. Vejo que esfregam a dentada somente após o abraço cuidadoso e individualizado que o fio de náilon proporciona a cada dente.

Faz todo sentido. A lógica da limpeza exige ordem e progresso - inteligência. E como toda mudança que se quer significativa, vem de dentro pra fora. Do menor para o maior, do micro para o macro, do pouco para o muito.

Primeiro as entranhas, a infraestrutura. Da gengiva pro dente, do dente pra boca, da boca pro mundo - com a ajuda milagrosa da água, que tudo dilui ou carrega.

Hoje foi dia de ruptura. Subversão da ordem.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

CORINGA SALVA BATMAN!

Atuação de Heath Ledger é o único destaque de mais uma decepcionante produção sobre o Cavaleiro das Trevas.



(Texto produzido em exercício de análise crítica de filme da disciplina Redação para Audiovisual, Jornalismo - Uniceub)

            Escrito e dirigido por Christopher Nolan, Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008) começou errando pelo título, que remete à clássica produção em quadrinhos de Frank Miller, dos anos 80, sem contudo lhe fazer referência em termos de enredo, arte ou brilho.
            A história deste segundo filme da nova série do homem-morcego tem como base o enredo de outro quadrinho, Batman: O Longo dia das Bruxas, e coloca em evidência a questão da “ilegalidade” da atuação dos heróis, que juridicamente agem tal qual os vilões: sem a legitimidade do uso da violência, cuja exclusividade foi assumida pelo Estado, ao longo da história. Batman, interpretado por Christian Bale, percebe-se amarrado na luta contra o crime, e aproxima-se dos representantes da lei, o comissário de polícia Jim Gordon e o promotor de justiça Harvey Dent. É nesse contexto que aparece o misterioso Coringa, na brilhantemente psicótica interpretação de Heath Ledger, anunciando-se como agente do caos e colocando em cheque os métodos do homem-morcego.
            A partir deste cenário começa um thriller alucinante, cheio de ação e reviravoltas entre os diversos personagens e situações – o que a princípio seria motivo de elogios e comentários positivos. Ocorre que isso se dá de uma forma meio “atropelante”, isto é, em velocidade e ritmos tais que o espectador mal acaba de se dar conta de uma situação, uma cena, e lá vem outra “encavalada”. Isso faz passar despercebido, ou sem questionamentos, relações de causa e efeito um tanto quanto implausíveis de algumas sequências – como quando o Batman é enganado pelo Coringa na tentativa de assassinato do prefeito, mas que aparentemente estava tramando junto com o comissário e o promotor para prender o vilão, que por sua vez mostrou que tinha forjado a própria prisão para dar prosseguimento a uma guerra psicológica com o herói, mesmo tendo acabado de tentar matá-lo em uma perseguição com direito a caminhão e lança-mísseis. E isso foi apenas um resumo.
            Outro grande problema por excesso de velocidade é exemplificado na cena de combate final ao Coringa. Batman entra em um prédio abandonado munido de óculos com visão noturna, e sai à caça do vilão e dos capangas. Na tentativa de reproduzir a sensação de ação e tensão sofrida pelo herói, o diretor abusa do plano subjetivo, com rotações de câmera frenéticas, tanto no eixo horizontal quanto no vertical, entremeadas de planos médios, muito escuros, deixando o espectador tonto e sem referência da cena.
            Outros defeitos remanescem do primeiro filme e envolvem a produção visual e artística na caracterização dos personagens e do ambiente. O cenário e o figurino são pós-modernos e tecnológicos demais. Gotham City não é nada gótica. O Batman mais parece um exterminador do futuro, e inexplicavelmente tem um tom de voz diabólico. O batmóvel é um tanque de guerra, e não um automóvel. Há excesso de cenas diurnas para um filme em que o cavaleiro se diz das trevas. Impossível evitar a comparação com o Batman de 1989, de Tim Burton: mais sombrio, gótico e noir.
A escolha de alguns atores para representar personagens importantes também é equivocada nessa perspectiva da caracterização. Jim Gordon deveria ser alguém mais robusto e imponente do que o esguio Gary Oldman. Bruce Wayne e Batman não poderiam ter o problema na arcada dentária superior que tem o Christian Bale, nem aspecto tão jovial. Irretocável e surpreendente, só mesmo o Coringa feito por Heath Ledger, o que lhe rendeu o Oscar póstumo de melhor ator coadjuvante.
O cinema já mostrou em Sin City – A Cidade do Pecado (2005), que é possível reproduzir com qualidade uma obra originalmente feita em quadrinhos. Por tratar-se de uma adaptação, o diretor Christopher Nolan deveria primar por uma aproximação e fidelidade maior aos gibis, de onde afinal vem o sucesso do homem-morcego, desde 1939.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Receita Passional do Brasil

Já pensou se houvesse obrigatoriedade ou prazo para questões do coração?

Receita Passional do Brasil relembra: termina hoje o prazo para se entregar! Quem não declarar seu amor até às 23:59 poderá pagar para ver e sofrer as sanções cabíveis. A declaração pode ser feita pessoalmente, por telefone, ou entregue por email, carta ou sms.

Dentre as penas previstas, está a de sentir pena de si mesmo, não poder se eleger a uma felicidade verdadeira, e correr o risco de ter o CPF (coração da pessoa física) suspenso, limitado à circulação sanguínea.

É obrigado a declarar toda pessoa que percebe algo maior que a vontade de ficar, pegar e transar. Estão isentos os demais.

domingo, 3 de junho de 2012

A Crônica Falta de Tempo



Texto escrito no primeiro semestre de 2011, por conta de uma tarefa da disciplina “História da Comunicação”, ministrada pelo professor Severino Francisco. O dever de casa: redigir uma crônica, tema livre, em 40 linhas.
...


Fui invocado a escrever uma crônica. Segundo o que encontrei por aí, crônica é um gênero narrativo curto, que comenta assuntos cotidianos de forma leve, despretensiosa, subjetiva e criativa: tudo o que não sou.

Ao pesquisar, também descobri – mas isso nem foi difícil porque a palavra já se entregava – que seu pai é mesmo o titã Cronos, o esquizofrênico devorador de vidas confundido com o próprio Tempo (devorador de todos os instantes). A crônica nasceu amiga da História, para registrar acontecimentos que não mereciam ser engolidos pelo impiedoso. Mas hoje ela parou de fazer cronologia, deixou de ser instrumento, cresceu e se tornou o gênero próprio descrito anteriormente: uma mistura indecifrável de história, jornalismo e literatura.

Curiosamente, já fiz o curso acadêmico de História, estou fazendo o de Jornalismo, mas nunca tive grande contato com a Literatura. Nem quando era obrigado a ler (e não lia) este ou aquele clássico durante a vida escolar. Estaria eu privado das belas construções da língua, impossibilitado de redigir meu texto? Não! Pois lembro bem, o mestre Severino, ordenador desta tarefa, caracterizou a crônica também como uma brincadeira, uma diversão, expressão do ser humano. Sem contar que a língua portuguesa, cautelosamente conduzida, encarrega de ser bela por si só. E vontade é o que não me falta para brincar, me divertir, experimentar.

O que me falta mesmo é tempo. Hoje não tive espaço suficiente na jornada para sentar, pensar, inspirar (-me) e escrever a bendita. Acordei umas 6 horas, levantei-me às 7. Saí sem tomar banho ou café para não ficar preso no trânsito e chegar com a antecedência necessária para se encontrar uma vaga para o carro, e outra para mim em sala de aula. Fazer faculdade pela manhã é pedir pra lutar contra o despertador todo santo dia, e perder por nocaute.

Após as aulas – que duraram mais do que a instituição havia lhes reservado no horário – segui para o trabalho sem dar vazão à vontade que tinha de ir ao banheiro naquele momento. Não podia perder tempo. De novo a justificativa do trânsito. Mas também porque era melhor mijar no serviço, onde a mijada é remunerada. Lá, Cronos é mais cruel: o exato instante em que chego ou saio é registrado por meio de um sistema eletrônico de freqüência. Tudo cronometrado. Como cheguei às 11 horas e 39 minutos, seria obrigado a sair, no mínimo, 9 horas depois, contando 8 de trabalho, mais uma de almoço, obrigatória. Logo, só fiquei livre às 20 horas e 39 minutos, e cheguei em casa umas 21 e tantas (tantas, porque em casa retomei um pouco a autonomia de não contar ao certo os minutos).

Agora restam umas 2 horas do dia para redigir minha crônica, além de jantar e tomar banho – não sei em que ordem. Isso porque tive a firmeza de não ceder aos apelos dos amigos carentes, coitados, de companhia em mesa de bar para assistir à quarta-feira futebolística. Fui curto e grosso com eles: “Não vai dar! Tenho uma crônica pra fazer, sem saber direito o que é ou como fazer. E é pra amanhã!” Eles ficaram curiosos: “E você vai falar sobre o quê?” Minha resposta talvez não tenha sido satisfatória: “Não sei. Ainda não defini. Só espero redigir um texto razoável, que fale sobre alguma coisa, sem ser chato, enfadonho e prolixo”. E que tudo acabe em 40 linhas e menos de 2 horas. Vamos lá! Quem mandou estudar e trabalhar todo dia!? Espero conseguir, vontade não me falta. Só tempo...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O Texto Jornalístico

TEXTO JORNALÍSTICO IMPÕE RESTRIÇÕES DE ESTILO
Redação para mídia impressa envolve técnica e procedimento próprios do gênero


O texto jornalístico é objetivo, direto e conciso. Os períodos não podem ser longos, com muitas frases que se acumulam por subordinação ou coordenação, que acabam levando à utilização do “queísmo”, que é um mal a ser evitado nesse tipo de texto. Ficar usando gerúndio também, nem chovendo! O fato ou aconteceu, ou vai acontecer.

O primeiro parágrafo é o lead, e dele devem constar o quê, quem, quando, onde, como e por quê de um acontecimento, em ordem decrescente de importância. O segundo parágrafo é o sublide, e serve para comprovar, documentar algum aspecto do lead. “Se você tiver uma citação importante ou uma prova, ela não pode passar do segundo parágrafo. Coloque-a logo!”, disse o professor de jornalismo do Uniceub, Luiz Cláudio Ferreira.

Geralmente não se inicia parágrafo com advérbios de sufixo “-mente”. Os demais parágrafos trazem outros detalhes e informações, e devem ter tamanhos homogêneos.

Para informações adicionais, Intertítulo.

A força e a consistência do texto jornalístico advêm do uso de substantivos e verbos, em detrimento de advérbios e adjetivos. Os últimos devem ser usados com parcimônia, para descrições técnicas. Adjetivos valorativos são desnecessários, irritantes, frouxos e subjetivos demais.

Fuja de construções com os pronomes possessivos seu(s) / sua(s). Seu texto pode ficar ambíguo. Afinal, clareza é o que se busca em jornalismo. Segundo o manual da Folha, “o texto de jornal deve ter estilo próximo da linguagem cotidiana”. Não obstante essa assertiva indefectível, o periodista não pode esquivar-se de ir ao encalço do vernáculo.

Conclusões

Elas não existem no texto noticioso. O mais importante já passou. O leitor que chega até o último parágrafo tem muita curiosidade – ou muito tempo disponível. O jornalista não. A mídia impressa faz parte de uma indústria, com toda pressão que isso envolve em termos de cumprimento de prazos. O temível horário de fechamento recebe o nome de dead-line.

Nem tempo, nem espaço. A diagramação deve ser respeitada. Informações e anúncios publicitários disputam a área do papel. “O texto jornalístico é concreto, passível de ser medido em centímetros”, escreveu Dad Squarisi. “Se não couber no espaço reservado para ele, entra na faca dos editores”. Assim, a notícia pode tranquilamente acabar sem mais nem menos.



Referências:
- Lage, Nilson. Estrutura da Notícia. 5ª ed. – São Paulo: Ática, 2002.
- Squarisi, Dad. A Arte de Escrever Bem: Um guia para jornalistas e profissionais de texto/ Dad Squarisi, Arlete Salvador. 6ª ed. – São Paulo: Contexto, 2009.
- Manual de Redação da Folha, disponível no sítio http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_redacao.htm

quinta-feira, 1 de março de 2012

Mulher Ideal (da minha realidade).



É aquela que não nega a maior beleza e elegância do salto-alto, mas usa - pois prefere - o charme e conforto dos calçados rasteiros.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Foi num Vasco e Fluminense...


Hoje é dia de Vasco e Fluminense pela final da Taça Guanabara de 2012. Mas o Vasco e Fluminense mais importante da minha vida aconteceu em 1994, pelo quadrangular final do Campeonato Carioca daquele ano. Era última rodada e quem ganhasse consagraria-se campeão.

Não lembro ao certo porque torcia pelo time de branco e preto com a cruz de malta no peito. Talvez para ser diferente do meu irmão, que já gostava de futebol e tinha o Flamengo como time, ou talvez - e mais provável - pela influência do meu avô, veterano vascaíno.

A certeza é que aquele time mágico do Vasco de 94 me conquistou de vez naquele dia. Mais do que arrebatarem o título e um torcedor - os 2 gols de Jardel, mostrados pelo televisor e narrados pelo entusiasmante Januário de Oliveira - trouxeram a alegria do futebol pela primeira vez a uma criança que só sabia ver Fórmula 1, e tinha acabado de perder seu grande ídolo, Ayrton Senna.

O futebol me ensinou, então, a força, o poder e a beleza do jogo coletivo. Que torcer por muitos talvez fosse melhor do que fixar-se no individual. Que mesmo perdendo o grande craque (o brilhante Denner havia falecido durante o campeonato), o time permanece - inclusive, na memória deste torcedor que ainda se lembra dos nomes do goleirão Carlos Germano, do lateral Pimentel, do xerife da zaga, Ricardo Rocha, dos meio-campistas Leandro e Yan, e dos atacantes Valdir e Jardel.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Anedota Mineiro-Candanga Real


Este diálogo aconteceu na saída do trabalho, por meio de uma ligação telefônica:

- Pai, bão? É que eu tô saindo do serviço agora e aqui em Sobradinho hoje teve mó chuva, blackout, ficou sem energia de tudo. Nem teve como trabalhar direito. Comé que tá aí na Asa Norte?
- Uai, aqui tá normal.
- Sério?!... Porque sempre que chove muito acaba a energia aí no Plano.
- Não, tá normal. Por quê?
- Pô! Queria saber porque tô programado de ir pra academia agora. Mas se não tiver energia lá, já iria direto pra casa.
- Humm... Sei. Tá querendo fugir da academia né seu preguiçoso!?
- Não uai! Só não quero perder viagem. Enfrentar mais trânsito à toa.
- Bom... A princípio tá tudo ok, mas eu também já tô saindo do trabalho e passo lá na frente pra ver se tá funcionando. É caminho de casa mesmo.
- Beleza! Me liga de volta, então, avisando.
- Pódeixá!
  [...]
Alguns minutos depois:
- Filho, passei por lá!
- E aí?...
- Tem energia.
- Sério?!...Muita?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

10 anos de Brasília


Neste fevereiro de 2012 faz 10 anos que eu saí do interior para tentar a vida na cidade grande... Mentira! Minha vinda para Brasília não teve nenhuma causa importante ou qualquer aspecto emocionante - a não ser para minha mãe, que chorou ao ver meu ônibus partir da rodoviária de Uberlândia. A história que conto agora não tem o mesmo drama que a de um tal João de Santo Cristo.

Eu era apenas um entediado jovem de 17 anos querendo mudar de ares. Na verdade, queria ter ido pra Goiânia, onde meu pai morava, mas ele já havia migrado de lá. Este sim viveu uma espécie de saga pessoal. Deixou o conforto do lar e sua esposa, temporariamente, para dividir com um amigo um apartamento mobiliado apenas com geladeira e colchão, em cima de uma oficina na asa norte. Depois, já com a mulher por aqui, foram para um apêzinho de 2 quartos, ainda na asa norte, até chegarem a um confortável 3 quartos com suíte no sudoeste, onde me receberam.

Lembro que cheguei em Brasília num dia e fui para o colégio no outro. O colégio, por sinal, não era aquele em que eu estava inicialmente matriculado - um tal de "Ícone", não conseguiu fechar turma para o 3º ano. Então fui para o Dromos, onde comecei minha vivência brasiliense e vi que a juventude daqui não era tão diferente.

De lá pra cá houve apenas uma ameaça à minha permanência na capital, e foi logo após o fim do segundo grau. É que havia passado no vestibular da Federal de Uberlândia, pra Ciência da Computação, e não acompanhei a 3ª chamada. Logo, perdi o prazo de matrícula mas nem me desesperei pela oportunidade perdida. No mesmo dia em que descobri isso - pouco antes, pela manhã - havia decidido, convicto, o meu destino: fazer o curso de História na Universidade de Brasília. Passar no vestibular não foi difícil, e assim ingressei na Unb, onde passei a maior parte de minha vida candanga.

Da Unb e da Asa Norte, onde fui morar, surgiram os melhores amigos, os amigos caminhoneiro(a)s e descaralhada(o)s, a primeira namorada, a galera do futebol, as festinhas, os bares, e claro, os milhares de textos lidos ou apenas fotocopiados. Asa Norte foi onde aprendi a correr, no Parque Olhos D'água. Unb foi onde mais me nutri, de comida e sabedoria popular, no saudoso R.U. Do curso mesmo, pouca coisa ficou, já que não consegui seguir carreira como pesquisador, nem como professor.

Profissionalmente, segui outros passos, e Brasília foi o palco de todas minhas experiências profissionais. Desde os pequenos bicos, como fiscal de prova e monitorias, durante a faculdade, até uma uma pequena passagem pelo Correio Braziliense, como estagiário. Quase me formando, entrei casualmente na onda de fazer um concurso público, por sugestão de uma namorada, e acabei passando. Virei servidor público na ANAC, e donde tenderia haver apenas coleguismo profissional, surgiram amizades incríveis e duradouras.

Seria difícil contar toda minha experiência e todos os lugares por que passei em Brasília em um único texto. Mas é bom relembrar, antes de terminá-lo, que já tive rápidas passagens pelo Uniceub, fazendo direito; pelo Dulcina, fazendo teatro; e pelo SENAC, fazendo lógica computacional. Já fui ao Pistão Sul, Conic, Água Mineral e Facita. . Já bebi (e cantei) na Praça dos Três Poderes, na pracinha da Palato e no karaokê do Strangers; já comi o Rodoburguer, o pastel Viçosa e a pizza Dom Bosco. E posso dizer, com orgulho, que nunca corri de sunga do parque; nunca falei "carái véi", nem usei os vocativos "véi", "velho", ou "brother".

Neste meu último ano resolvi fazer o curso de Jornalismo, de volta ao Ceubão, e agora estou trabalhando no Tribunal de Justiça do Distrito Federal - onde nunca imaginei ou sonhei estar, mas adorando a experiência e a dinâmica do trabalho. Ainda não encontrei Maria Lúcia, mas também nenhum Jeremias. Para quem chegou aqui sem ter ideia do que fazer, até que teve bão, né?!




sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Conquista de Romã


No final da tarde desta sexta-feira em Uberlândia, minha mãe fez um pedido tranquilo para um filho realizar, ainda que na preguiça das férias: levá-la para comprar uma romã, de modo que ela, minha tia e meu irmão pudessem fazer a simpatia dos 3 reis magos, possível somente na data de 6 de janeiro de cada ano.

Segundo ela a simpatia - que consiste basicamente em desprezar, comer e guardar cada grupo de 3 sementes da fruta, mencionando os nomes de Belchior, Baltasar e Gaspar em dado momento - serve para trazer e garantir dinheiro (e outras boas sortes) pelo resto do ano. Não acredito nessas e outras coisas, mas não ia deixar de atender esse singelo pedido de mãe, por sua vez deixado de herança por Dona Mariza, minha inesquecível avó. Além de ter muita mãe envolvida nisso, não queria ser eu a pessoa a obstar o espetáculo do crescimento econômico da minha família.

Então peguei o carro e lá fomos nós onde ela achava que existia um sacolão. Chegando lá, surpresa!!! Só havia uma papelaria, num caminho que ela praticamente faz todo dia. Beleza! Seguimos para um mercadinho próximo. Nada de romã, mas garantimos o pão de queijo e o suco pro lanche da noite. Daí ela resolveu apelar e pediu que fôssemos a um supermercado de uma grande rede nacional. Estacionando lá perto, ouvi dela: "Não acredito que vou enfrentar supermercado a uma hora dessas para comprar 1(uma) romã". A incredulidade começava a mudar de lado.

Mas parece que a oferta de romã também não faz parte das estratégias de venda desses supermercados. Ou talvez isso seja conspiratório. Os donos de mercados, pequenos ou grandes, não estavam afim de dividir os segredos de suas riquezas com o restante da população. O fato é que não encontramos a fruta pra vender. Se ela não podia ser comprada, restava ser apanhada. Mas onde?

Minha mãe lembrou de uma empresa que vendia não-sei-lá-o-quê na esquina de uma avenida um pouco afastada do centro da cidade. Lá dentro teria um pé de romã, mas teríamos que ser rápidos para encontrar a loja aberta e poder pedir permissão pra pegar a fruta. Chegamos a tempo, mas o lugar parecia abandonado. Sem atividade, estava cercado e trancado. O pé de romã estava lá no jardim frontal, quase dois metros distante de uma cerca  formada por uma trama losangular estreita de arame - que permitia que o víssemos, mas não o alcançássemos.

Já era hora de acionar o filho racionalista e descrente que há em mim e começar a consolar minha mãe, ponderando sobre implausibilidade e falta de lógica dessas práticas, aproveitando que até ela já tinha se dado por vencida: "Ah! Deixa pra lá!". Mas quando dei por mim já tinha descido do carro e estava cogitando pular a cerca, dar um jeito. Depois de rodar a cidade em busca dessa romã, eu não ia desistir ali, tão próximo dela.

Obcecado, arrumei um grande pedaço de galho quebrado solto no chão, mas era irregular para penetrar a cerca, e fraco demais para abater a única fruta da árvore. Voltei a pensar em pular, mas não seria uma boa ideia fazer isso quando patrulhas da ROTAM tinham acabado de passar por ali. O arame farpado que cobria a cerca também ajudou a impedir essa besteira.

Então a providência me fez enxergar um pecíolo (a haste, o "cabo", para quem já chegou até aqui não precisar procurar no Google) seco de uma ex-folha de palmeira. Tinha a espessura que permitia atravessar a trama da cerca; o comprimento que chegava até à romã lá no alto; e a resistência necessária para romper o pedúnculo que prendia a fruta. Segurando essa "espada" com as duas mãos, dei umas 30 chineladas na bendita, e nada! Minha mãe: "É...Não vai dar, ela é difícil de desprender"...

Eu? Recuperei o fôlego, elevei meu Ki ao máximo, e dei a última cutucada! A romã caiu perpendicular ao solo. Puxei-a para cerca da cerca, e o restante foi com minha mãe, já que só seu antebraço fino podia atravessá-la para catar a fruta. A simpatia também ficou por sua conta, já que eu não dou importância pra nada disso não.