sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Conquista de Romã


No final da tarde desta sexta-feira em Uberlândia, minha mãe fez um pedido tranquilo para um filho realizar, ainda que na preguiça das férias: levá-la para comprar uma romã, de modo que ela, minha tia e meu irmão pudessem fazer a simpatia dos 3 reis magos, possível somente na data de 6 de janeiro de cada ano.

Segundo ela a simpatia - que consiste basicamente em desprezar, comer e guardar cada grupo de 3 sementes da fruta, mencionando os nomes de Belchior, Baltasar e Gaspar em dado momento - serve para trazer e garantir dinheiro (e outras boas sortes) pelo resto do ano. Não acredito nessas e outras coisas, mas não ia deixar de atender esse singelo pedido de mãe, por sua vez deixado de herança por Dona Mariza, minha inesquecível avó. Além de ter muita mãe envolvida nisso, não queria ser eu a pessoa a obstar o espetáculo do crescimento econômico da minha família.

Então peguei o carro e lá fomos nós onde ela achava que existia um sacolão. Chegando lá, surpresa!!! Só havia uma papelaria, num caminho que ela praticamente faz todo dia. Beleza! Seguimos para um mercadinho próximo. Nada de romã, mas garantimos o pão de queijo e o suco pro lanche da noite. Daí ela resolveu apelar e pediu que fôssemos a um supermercado de uma grande rede nacional. Estacionando lá perto, ouvi dela: "Não acredito que vou enfrentar supermercado a uma hora dessas para comprar 1(uma) romã". A incredulidade começava a mudar de lado.

Mas parece que a oferta de romã também não faz parte das estratégias de venda desses supermercados. Ou talvez isso seja conspiratório. Os donos de mercados, pequenos ou grandes, não estavam afim de dividir os segredos de suas riquezas com o restante da população. O fato é que não encontramos a fruta pra vender. Se ela não podia ser comprada, restava ser apanhada. Mas onde?

Minha mãe lembrou de uma empresa que vendia não-sei-lá-o-quê na esquina de uma avenida um pouco afastada do centro da cidade. Lá dentro teria um pé de romã, mas teríamos que ser rápidos para encontrar a loja aberta e poder pedir permissão pra pegar a fruta. Chegamos a tempo, mas o lugar parecia abandonado. Sem atividade, estava cercado e trancado. O pé de romã estava lá no jardim frontal, quase dois metros distante de uma cerca  formada por uma trama losangular estreita de arame - que permitia que o víssemos, mas não o alcançássemos.

Já era hora de acionar o filho racionalista e descrente que há em mim e começar a consolar minha mãe, ponderando sobre implausibilidade e falta de lógica dessas práticas, aproveitando que até ela já tinha se dado por vencida: "Ah! Deixa pra lá!". Mas quando dei por mim já tinha descido do carro e estava cogitando pular a cerca, dar um jeito. Depois de rodar a cidade em busca dessa romã, eu não ia desistir ali, tão próximo dela.

Obcecado, arrumei um grande pedaço de galho quebrado solto no chão, mas era irregular para penetrar a cerca, e fraco demais para abater a única fruta da árvore. Voltei a pensar em pular, mas não seria uma boa ideia fazer isso quando patrulhas da ROTAM tinham acabado de passar por ali. O arame farpado que cobria a cerca também ajudou a impedir essa besteira.

Então a providência me fez enxergar um pecíolo (a haste, o "cabo", para quem já chegou até aqui não precisar procurar no Google) seco de uma ex-folha de palmeira. Tinha a espessura que permitia atravessar a trama da cerca; o comprimento que chegava até à romã lá no alto; e a resistência necessária para romper o pedúnculo que prendia a fruta. Segurando essa "espada" com as duas mãos, dei umas 30 chineladas na bendita, e nada! Minha mãe: "É...Não vai dar, ela é difícil de desprender"...

Eu? Recuperei o fôlego, elevei meu Ki ao máximo, e dei a última cutucada! A romã caiu perpendicular ao solo. Puxei-a para cerca da cerca, e o restante foi com minha mãe, já que só seu antebraço fino podia atravessá-la para catar a fruta. A simpatia também ficou por sua conta, já que eu não dou importância pra nada disso não.