sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Morar Só" - Paz, Trabalho e Lições de Economia


Há 1 ano passei a morar só em uma quitinete de 32 m² localizada no setor de oficinas do sudoeste, em Brasília. As vantagens evidentes da experiência estão na paz, no sossego, na tranquilidade de não ter mais que dividir espaços, dar satisfações ou esperar para usar o banheiro. E mais do que aprender se virar, morando sozinho você entende o que é a tal da Economia.

Não à toa a palavra Economia, de origem grega, tem algo a ver com Lei e Casa. De princípios de administração do lar ou do Estado, virou uma ciência com variadas ramificações de estudos nos tempos contemporâneos. Mas o que importa aqui e agora são as discussões básicas que desde então surgiram, sobre a circulação e o consumo dos bens e serviços, e a questão principal: como equacionar necessidades humanas ilimitadas com recursos escassos?

Escassez

A primeira coisa que aprendi foi sobre limites. Quando morava sob as asas dos pais, o salário de servidor público (que não é lá isso tudo) sobrava. Sem nenhum passarinho para alimentar, raramente consultava o saldo bancário. Não precisava  Me sentia tão rico que aproveitava todas as ofertas de mentira que chegavam por email - da Americanas, do Submarino, da Netshoes, etc. Morando só, aniquilei o consumismo e já até abri uma planilha orçamentária. As contas a pagar são muitas. O salário diminuiu, o mês aumentou.

Produtos e serviços

Descobri o valor de cada um: água,  energia, condomínio, lavanderia, diarista, tv, internet e telefone. Sem falar do abastecimento da dispensa e da geladeira. Na casa dos pais, elas tinham portas mágicas. Bastava abri-las para aparecer um iogurte novo, uma lasanha, um chocolate. Agora sou eu que tenho que ir ao supermercado, enfrentar filas, escolher, comprar, colocar na sacolinha, no carrinho, tirar do carrinho, pôr no porta-malas do carro e dele para a geladeira. E isso toda semana, se eu quiser ter meu miojo à disposição (malditos bens de consumo não duráveis!)

Além das compras, tentei seguir esse lance de "faça você mesmo" pra tudo. No começo eu até limpava o apê. Depois de um mês, de dores nas costas e de uma forte crise alérgica provocada pela poeira que não consegui eliminar, resolvi dar valor aos serviços de limpeza profissionais. E pagá-los, é claro. O melhor investimento pra casa, sem dúvida. O retorno vem em saúde, tempo e bem-estar. Faxina envolve técnica e recursos que não tenho.

Problemas

Também não tinha técnica e recurso para consertar meu chuveiro, cuja resistência queimou. Depois de tomar banho gelado por 3 dias, resolvi fazer a troca. Com orientação do meu avô, uma chave de fenda e pedaços de fita isolante, consegui arrumar a bagaça. Depois de 2 meses o conector dos fios que eu instalei estava derretendo. Tive que pagar por serviços profissionais para resolver o transtorno de vez.

Ao contrário da comida, os problemas aparecem do nada. O ventilador de teto começa a exalar cheiro de queimado e explode. A lâmpada fluorescente, em tese mais eficiente, se apaga para sempre. As palhetas do ar-condicionado se soltam e caem. O encanamento entope. A água vaza. Bolhas aparecem na pintura da parede. Os problemas são (como) as baratas, que surgem de repente.

Recordes

Morar só dá trabalho, é inegável. Nos dias corridos de hoje, seria bom apelar para algumas facilidades que o mundo moderno oferece. Mas nesse último ano consegui certas proezas, alguns "nuncas" que vale a pena compartilhar. . Nunca pedi comida por telefone (no Brasil, mais conhecido por delivery). Sempre dei um jeito de comer o que tem em casa. Também nunca usei microondas. Não tenho um, mas enfim... Também nunca usei o jurássico ar-condicionado que deixaram no apê. Receio ser infectado pelo vírus da gripe espanhola. Nunca fiz um "open house". E por último, mas não menos importante: nunca deixei faltar cerveja na geladeira