sexta-feira, 29 de junho de 2012

Receita Passional do Brasil

Já pensou se houvesse obrigatoriedade ou prazo para questões do coração?

Receita Passional do Brasil relembra: termina hoje o prazo para se entregar! Quem não declarar seu amor até às 23:59 poderá pagar para ver e sofrer as sanções cabíveis. A declaração pode ser feita pessoalmente, por telefone, ou entregue por email, carta ou sms.

Dentre as penas previstas, está a de sentir pena de si mesmo, não poder se eleger a uma felicidade verdadeira, e correr o risco de ter o CPF (coração da pessoa física) suspenso, limitado à circulação sanguínea.

É obrigado a declarar toda pessoa que percebe algo maior que a vontade de ficar, pegar e transar. Estão isentos os demais.

domingo, 3 de junho de 2012

A Crônica Falta de Tempo



Texto escrito no primeiro semestre de 2011, por conta de uma tarefa da disciplina “História da Comunicação”, ministrada pelo professor Severino Francisco. O dever de casa: redigir uma crônica, tema livre, em 40 linhas.
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Fui invocado a escrever uma crônica. Segundo o que encontrei por aí, crônica é um gênero narrativo curto, que comenta assuntos cotidianos de forma leve, despretensiosa, subjetiva e criativa: tudo o que não sou.

Ao pesquisar, também descobri – mas isso nem foi difícil porque a palavra já se entregava – que seu pai é mesmo o titã Cronos, o esquizofrênico devorador de vidas confundido com o próprio Tempo (devorador de todos os instantes). A crônica nasceu amiga da História, para registrar acontecimentos que não mereciam ser engolidos pelo impiedoso. Mas hoje ela parou de fazer cronologia, deixou de ser instrumento, cresceu e se tornou o gênero próprio descrito anteriormente: uma mistura indecifrável de história, jornalismo e literatura.

Curiosamente, já fiz o curso acadêmico de História, estou fazendo o de Jornalismo, mas nunca tive grande contato com a Literatura. Nem quando era obrigado a ler (e não lia) este ou aquele clássico durante a vida escolar. Estaria eu privado das belas construções da língua, impossibilitado de redigir meu texto? Não! Pois lembro bem, o mestre Severino, ordenador desta tarefa, caracterizou a crônica também como uma brincadeira, uma diversão, expressão do ser humano. Sem contar que a língua portuguesa, cautelosamente conduzida, encarrega de ser bela por si só. E vontade é o que não me falta para brincar, me divertir, experimentar.

O que me falta mesmo é tempo. Hoje não tive espaço suficiente na jornada para sentar, pensar, inspirar (-me) e escrever a bendita. Acordei umas 6 horas, levantei-me às 7. Saí sem tomar banho ou café para não ficar preso no trânsito e chegar com a antecedência necessária para se encontrar uma vaga para o carro, e outra para mim em sala de aula. Fazer faculdade pela manhã é pedir pra lutar contra o despertador todo santo dia, e perder por nocaute.

Após as aulas – que duraram mais do que a instituição havia lhes reservado no horário – segui para o trabalho sem dar vazão à vontade que tinha de ir ao banheiro naquele momento. Não podia perder tempo. De novo a justificativa do trânsito. Mas também porque era melhor mijar no serviço, onde a mijada é remunerada. Lá, Cronos é mais cruel: o exato instante em que chego ou saio é registrado por meio de um sistema eletrônico de freqüência. Tudo cronometrado. Como cheguei às 11 horas e 39 minutos, seria obrigado a sair, no mínimo, 9 horas depois, contando 8 de trabalho, mais uma de almoço, obrigatória. Logo, só fiquei livre às 20 horas e 39 minutos, e cheguei em casa umas 21 e tantas (tantas, porque em casa retomei um pouco a autonomia de não contar ao certo os minutos).

Agora restam umas 2 horas do dia para redigir minha crônica, além de jantar e tomar banho – não sei em que ordem. Isso porque tive a firmeza de não ceder aos apelos dos amigos carentes, coitados, de companhia em mesa de bar para assistir à quarta-feira futebolística. Fui curto e grosso com eles: “Não vai dar! Tenho uma crônica pra fazer, sem saber direito o que é ou como fazer. E é pra amanhã!” Eles ficaram curiosos: “E você vai falar sobre o quê?” Minha resposta talvez não tenha sido satisfatória: “Não sei. Ainda não defini. Só espero redigir um texto razoável, que fale sobre alguma coisa, sem ser chato, enfadonho e prolixo”. E que tudo acabe em 40 linhas e menos de 2 horas. Vamos lá! Quem mandou estudar e trabalhar todo dia!? Espero conseguir, vontade não me falta. Só tempo...