quarta-feira, 19 de junho de 2013

Retardo Coletivo

foto: Eduardo Knapp/Folhapress

Pela televisão, a cena. Repórter se aproxima da manifestante agachada com uma caneta à mão sobre a cartolina em branco. "O que você vai escrever aí?" - "Não sei. Tô pensando ainda."

Juventude acéfala e irresponsável. Milhares de inocentes emprestam seus corpos para um teatro sem direção. Brincam de revolucionários. Querem tudo mas não têm controle sobre nada.

"SEM VIOLÊNCIA" (carros queimados)/ "SEM VIOLÊNCIA" (prédios históricos depredados e pichados). "SEM VIOLÊNCIA" (jornalistas agredidos). "SEM VIOLÊNCIA" (começa a onda de saques)

"É uma minoria que não nos representa". E quem os representam? Quem são vocês? O povo unido jamais seria vencido. Cadê a união, a coesão? Qual o propósito disso tudo?

"Acredite... Não é por 20 centavos!" Antes fosse. Teríamos um problema concreto, uma indignação justa e uma discussão possível com o poder público. Como a tarifa de transporte é confeccionada? Que parte cabe ao município, ao estado ou a união? Que empresas participaram do processo licitatório? Qual é/ foi a regra do jogo? O lucro previsto? O que pode ser feito?

Mas não querem discussão. Se dizem democráticos mas não querem saber de partidos. O sistema representativo parece lento e distante demais. Nunca procuraram um caminho. Querem um atalho para o mundo perfeito. 

Soluções "democráticas" que circulam pelas redes sociais

Nas ruas, os poucos manifestantes que mostram a cara, e a bandeira política, são obrigados a baixá-las. "SEM PARTIDO!... SEM PARTIDO!.... SEM PARTIDO!" 

Se autoproclamam "apolíticos". Como se milhares de pessoas entupindo as ruas não fosse um discurso político, poderoso e perigoso. Que diz mais que as babaquices escritas nos cartazes. Que interessa a muita gente, muito mais esperta e organizada.

Inflamaram as massas. E o fogo parece incontrolável. Tenho receio de quem vai aparecer para apagá-lo.

19 comentários:

chico macedo disse...

Sérgio,

Parabéns pela coragem em manifestar com a clareza de sempre sua opinião num ambiente (a internet) em que representa o pensamento de uma minoria. Faltam críticas equilibradas ao que acontece no Brasil nos últimos dias. Estou contigo.

Abraço, Chico.

Unknown disse...

Que texto bom de ler. Elucidativo, conciso e polêmico. Parabéns! Tanta gente na rua. Manifesto nacional e internacional ao mesmo tempo. Isso já aconteceu antes?

Sérgio Bertoldi disse...

Eu respeito, contudo, a boa intenção dos jovens. O clamor por melhoras é sempre bem-vindo.

A passeata em outros países eu desprezo. Mil, duas mil pessoas que estão distantes da realidade (deixada pra trás), e graças às facilidades da rede aproveitam para fazer o coro simultâneo.

E assim, ajudam a promover a pior imagem possível do país (agradando a tanta gente da direita)

Anônimo disse...

Ótimo texto Sergio, concordo que a falta de educação da nossa nação é realmente preocupante. O momento histórico que passamos é tenso, e devemos usar e abusar da nossa principal arma nessa luta: A COMUNICAÇÃO!! Nessa batalha temos a internet como aliada e como rival, uma vez que todos os lados tem acesso à mesma ferramenta, e aproveito seu blog pra fazer o bom uso da internet, se liga nesses links:
http://www.viomundo.com.br/denuncias/no-centro-de-sao-paulo-manifestante-dizia-foda-se-o-brasil-nacionalismo-e-coisa-de-imbecil.html

http://www.youtube.com/watch?v=YwkDcJnSgX0

E VAMOS PRAS RUAS!!!
Kali Turrer Dolabella

Sérgio Bertoldi disse...

Excelente contribuição Kali! Obrigado.

Mas só irei às ruas quando souber com quem, e para quê.

tresporquatro disse...

Sérgio, tenho conversado muito com o Chico sobre isso. Você nos deve um debate etílico. Quanto ao seu texto, escrito com rigor, discordo quase que de cabo a rabo. Tenho me envolvido muito nesta questão e gostaria de debater mais, principalmente com as vozes ao movimento dissonantes que não sejam os bons e velhos oportunistas de direita. O movimento tem pai, mãe, RG, e sabe bem pra onde está indo, independente de quantas pernas o carreguem. E alguma coisa já está acontecendo... http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/18/apos-protestos-sete-capitais-anunciam-reducao-de-precos-de-passagens-de-onibus.htm

tresporquatro disse...

E tem mais isso:
http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/06/quanto-valem-20-centavos.html

tresporquatro disse...

E isso:
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/06/19/em-breve-o-preco-da-passagem-sera-o-menor-dos-problemas-do-poder-publico/

tresporquatro disse...

E mais isso: "Muitos representantes políticos não entendem como manifestações como os protestos contra o aumento das passagens em São Paulo não são conduzidos por partidos, sindicatos e associações, mas sim em um processo descentralizado. Há lideranças no movimento, mas elas estão lá para organizar, não necessariamente controlar o que brotou da insatisfação popular tanto à persistência de problemas existentes quanto aos tipos de soluções que vêm sendo dadas pelos próprios representantes políticos a esses problemas. Por conta disso, vi declarações de analistas que, beges e em pânico, afirmavam que não sabiam como dialogar com uma situação dessas. Ótimo. Que fujam do comodismo estanque e reaprendam a se comunicar. Pois as demandas, agora, são outras."
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/06/15/o-poder-publico-nao-consegue-entender-as-manifestacoes-de-sao-paulo/

Sérgio Bertoldi disse...

Thiago, seu lindo, que bom ouvir voz discordante de alto nível. Com certeza temos que nos alongar sobre o assunto, em apropriada mesa de bar.

Meu texto - como qualificado por Carol - tá enxuto, curto e grosso demais. Intenção provocativa mesmo.

No meio disso tudo, sou a favor dos movimentos que têm cara e objetivo. Pra mim o MPL parece ser um desses. Legítimo. Debruçam sobre o transporte público.

Mas o que vejo é uma agitação fora do comum, maior do que a necessária para resolver problemas específicos. Acho que o espaço público deve ser ocupado com "cuidado e moderação". Se não, acaba dando merda.

Bruno Cameschi disse...

Cara, confesso que este tema me perturbou um pouco. De maneira geral e teoricamente sou a favor de manifestações populares. Ao mesmo tempo, não sei se gosto muito destas. Elas são muito estranhas.

Sábado, vivenciando meu primeiro ser, fui me manifestar contra a Copa e contra a FIFA no Estádio Nacional. Quem me conhece sabe bem que desde sempre sou contra a realização da Copa e dos Jogos Olímpicos no Brasil. Uma das poucas teorias econômicas que me parece óbvia é a de que "não existe almoço de graça". E essa gastança homérica dos governos federal e estaduais não pode acabar bem.

Agora vem segundo ser, antitético, para lembrar o velho Marx. Sábado acompanhei bem a repercussão das manifestações da grande mídia e os termos que designavam os manifestantes eram: vândalos e baderneiros. Pois bem, a partir de segunda-feira, "misteriosamente", como num passe de mágica, a mesmíssima mídia definia os mesmos como: politizados, participativos, em suma, o "Brasil mostrando a sua cara".

Síntese: o famigerado e execrável PIG (Partido da Imprensa Golpista) teve um click. Porque não alimentarmos essa situação para desgastar o governo Dilma? O PIG tarda, mas não falha - lembram do Movimento "Cansei"?

Aí, obviamente os incautos e despreparados brasileiros (ô povo que não toma jeito!) comprou cada vez mais a ideia dos protestos. Atrizes globais e até Gabi Amarantos?! engrossaram o caldo dos revoltados revoltosos. Impeachment da Dilma, pasmem, está na ordem do dia.

Pra finalizar: agora sou contra as manifestações, apesar de respeitar muito por exemplo a do movimento passe livre em Sampa. Mas a coisa degringolou. E torço para duas coisas: Haddad mantenha o preço das passagens e povo volte para casa, não seja massa de manobra do PIG. Os estragos dos gastos com a Copa já estão feitos, Inês infelizmente é morta.

Ufa, é isso. Bruno: latino-americano, petista, esquerdista, democrata, constitucionalista , a favor sempre do povo e contra interesses escusos.

Bruno Cameschi disse...

Ops, talvez não tenha feito me entender direito quanto ao Haddad. Quero que ele mantenha os 3 reais (preço antes do início das manifestações em Sampa), não os 3,20 de agora.

Sérgio Bertoldi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sérgio Bertoldi disse...

Bruno Rodrigues "Camestre",

Tua participação engrandece demais esta postagem. Vem a calhar para entrarmos na análise dos fatos. Meu texto foi mais opinativo do que analítico.

Concordo com tuas observações. Pra mim a coisa tava boa, tava massa, legítima, em São Paulo. O movimento tinha uma proposta, lutava por ela. Incomodou e perseverou.

Mas o incômodo inicial fez os jornalões de lá pedirem, e polícia do Geraldo atendeu: desceram a porrada descaradamente, na última sexta feira. A porrada atingiu, literalmente, até a imprensa.

E aí começou a virada que você mencionou. A grande mídia, que tratava com desdém a manifestação, passou a vitimizá-la, enaltecê-la, santificá-la. Ficou até repetitivo ouvir "a manifestação pacífica", "a grande maioria pacífica", pela tv.

A propaganda do filme "povo contra Estado" seguiu e tomou proporções que já não pertenciam ao movimento contra o aumento de preços de ônibus em SP. Multiplicou-se com motivos esdrúxulos. Em brasília,começou contra a copa, e depois "em defesa do mov. de SP". Primeiro marcaram o evento da Marcha do Vinagre, e depois fizeram enquetes pelo facebook pra saber sobre o que eles iam gritar/ caminhar.

Ou seja, é o retrato que fiz no primeiro parágrafo (que eu tirei de cenas do Profissão Repórter). O importante, pra essa nova onda de manifestantes, era se movimentar, sair do facebook. Isso foi visto em vários cartazes. O "orgulho" deles terem conseguido: "Saímos do Facebook".

E essa farra coletiva, contra tudo e contra todos, pra mostrar que o "povo" sai às ruas, eu não engulo.

Bruno Cameschi disse...

Obrigado, Sérgio.

Realmente é isto. Pelo menos três movimentos difusos e (ou)genéricos do tipo "contra a corrupção" foram feitos nos últimos anos. O "Cansei"; aquele no 7 de setembro de 2011 (p/ desmoralizar a Dilma, justamente em um dia importante p/a afirmação de qualquer presidente); e este agora.

Ora, manifestação contra a corrupção de quem, cara pálida? PT, PSDB, PMDB, Dilma, Lula, FHC, Alckmin, todos os políticos...? Se não ficar claro contra quem é, sobra p/ o status quo, no caso, Dilma e PT. Isso que é sutil e as pessoas dificilmente percebem. Esses movimentos podem começar com um caráter puro, inocente e despretensioso, mas no fundo não são nada inocentes. Porque eles desestabilizam e questionam a autoridade do poder constituído.

Este é o perigo silencioso e velado. Pode parecer exagero, mas em 2002, Hugo Chávez sofreu um golpe ILEGAL (poucos dias depois revertido)e bem recentemente Fernando Lugo (Paraguai)sofreu um golpe LEGAL (dado pelo Congresso Nacional), que apesar de dentro da lei (legal)foi um golpe.

Alguns mais "exaltados" já falam em impeachment da presidenta. Ora, o que seria isso se não um golpe, ainda que legal? Portanto, todo cuidado é pouco. Como diz PH Amorim: "o negócio da Globo não é ganhar eleições, o negócio da globo é dar golpe" Legal ou ilegal.

Em tempo: Haddad e Alckmin acabaram de revogar o aumento das passagens em São Paulo. Ótima notícia!

Sergiles, tamo junto!

Sônia K. disse...

Seu texto cumpre bem a função para a qual se propõe. Interessante é a dualidade de sentimentos que a situação causa, pois ao mesmo tempo em que fico feliz vendo essa energia, esse entusiasmo, que sem dúvida é contagiante, me preocupa a falta de foco.
No início pensei tratar-se de um conflito de gerações, pois questionei alguns participantes do movimento em Brasília bem mais jovens que eu: - é contra o que? - contra tudo (alguns), - contra nada (outros), - quem lidera? - ninguém,- o que querem? - saúde, educação, transporte, fim da corrupção (óbvio, todos queremos). - mas e aí, de que forma? Qual o plano? – Ainda não sabemos. Pensei, a princípio, que estava sendo vítima de uma possível falta de modernidade nas minhas ideias, apesar de não ter tanta idade e trabalhar com tecnologia e inovações, e ter vários colegas muito jovens. Veja, não estava recriminando nada.... só queria ENTENDER.
Bom... parei de tentar entender e passei a torcer. Torcer para que os aproveitadores de plantão não tenham sucesso, que se encontre um destino, que se encontre um caminho, e que, principalmente, que esse caminho não seja tortuoso demais.
Ah... o fechamento do texto é brilhante!!!

Anônimo disse...

´´ Milhares de inocentes emprestam seus corpos para um teatro sem direção...´´ Perfeita a definição onde é visível que o grande problema de toda essa massa é a ausência do POR QUE e PARA QUE das coisas. Não ha como surgir resolução de problema se não ha definição de qual o problema a ser resolvido e assim, nessa manada sem direção e sem objetivo perde}se o foco gerando oportunidade para os que querem depredar, saquear e agredir se agreguem camuflados a marcha e implantem o caos.
É praticamente impossível até mesmo para as autoridades policiais coordenar o apoio necessário para o desenvolvimento das manifestações (que são legítimas e constitucionais), pois não ha liderança nem conhecimento da natureza do protesto. Excelente texto!

CAPITÃO NAPOLEÃO BOPE - PMDF

Unknown disse...

Sérgio, Bruno e demais, meu sentimento ainda é de apoio aos movimentos. Meu pragmatismo político entende que de fato somos uma democracia apenas de 1985 em diante e que a construção da cidadania de fato é muito recente. Portanto, considero as manifestações parte desse aprendizado. Com seus erros e acertos. Pessoas conscientes ou não. Mas estou atônito com a violência. Angustiado mesmo com a possibilidade de ver uma oportunidade cívica e democrática ser desperdiçada. Nesse ponto, estou de acordo com o Bruno que chama atenção para o oportunismo político. Isso é realmente grave. Mas também concordo com o Thiago quando se refere ao desenvolvimento de novas formas de comunicação com movimentos populares. E, de verdade, não vejo problema na pauta difusa. Há elementos concretos e seus grupos: preço das passagens, gastos públicos para os grandes eventos, PEC 37, possibilidade de tratamento psicológico para homossexuais, serviços públicos defasados. Há demandas abstratas: descrença nos partidos, descrença nos representantes, sentimento constante de tramóias, corrupção e interesses escusos no trato da coisa pública. Em todos esses tópicos canais de comunicação e diálogos produtivos podem ser estabelecidos.

Bruno Cameschi disse...

Pra vocês verem, ontem em salvador tinha um cartaz com os dizeres: "Abaixo Dilma, abaixo a homofobia e abaixo o racismo". Simplesmente, de alguma maneira, associaram a Dilma à homofobia e ao racismo. Pode um negócio desses?