Texto escrito no primeiro semestre de 2011, por conta de uma tarefa da disciplina “História da Comunicação”, ministrada pelo professor Severino Francisco. O dever de casa: redigir uma crônica, tema livre, em 40 linhas.
...
Fui invocado a
escrever uma crônica. Segundo o que encontrei por aí, crônica é um
gênero narrativo curto, que comenta assuntos cotidianos de forma leve, despretensiosa,
subjetiva e criativa: tudo o que não sou.
Ao pesquisar,
também descobri – mas isso nem foi difícil porque a palavra já se entregava –
que seu pai é mesmo o titã Cronos, o esquizofrênico devorador de vidas
confundido com o próprio Tempo (devorador de todos os instantes). A crônica
nasceu amiga da História, para registrar acontecimentos que não mereciam ser
engolidos pelo impiedoso. Mas hoje ela parou de fazer cronologia, deixou de ser
instrumento, cresceu e se tornou o gênero próprio descrito anteriormente: uma
mistura indecifrável de história, jornalismo e literatura.
Curiosamente, já
fiz o curso acadêmico de História, estou fazendo o de Jornalismo, mas nunca tive
grande contato com a Literatura. Nem quando era obrigado a ler (e não lia) este
ou aquele clássico durante a vida escolar. Estaria eu privado das belas
construções da língua, impossibilitado de redigir meu texto? Não! Pois lembro
bem, o mestre Severino, ordenador desta tarefa, caracterizou a crônica também
como uma brincadeira, uma diversão, expressão do ser humano. Sem contar que a
língua portuguesa, cautelosamente conduzida, encarrega de ser bela por si só. E
vontade é o que não me falta para brincar, me divertir, experimentar.
O que me falta
mesmo é tempo. Hoje não tive espaço suficiente na jornada para sentar, pensar,
inspirar (-me) e escrever a bendita. Acordei umas 6 horas, levantei-me às 7.
Saí sem tomar banho ou café para não ficar preso no trânsito e chegar com a
antecedência necessária para se encontrar uma vaga para o carro, e outra para
mim em sala de aula. Fazer faculdade pela manhã é pedir pra lutar contra o
despertador todo santo dia, e perder por nocaute.
Após as aulas –
que duraram mais do que a instituição havia lhes reservado no horário – segui
para o trabalho sem dar vazão à vontade que tinha de ir ao banheiro naquele
momento. Não podia perder tempo. De novo a justificativa do trânsito. Mas
também porque era melhor mijar no serviço, onde a mijada é remunerada. Lá,
Cronos é mais cruel: o exato instante em que chego ou saio é registrado por
meio de um sistema eletrônico de freqüência. Tudo cronometrado. Como cheguei às
11 horas e 39 minutos, seria obrigado a sair, no mínimo, 9 horas depois,
contando 8 de trabalho, mais uma de almoço, obrigatória. Logo, só fiquei livre
às 20 horas e 39 minutos, e cheguei em casa umas 21 e tantas (tantas, porque em
casa retomei um pouco a autonomia de não contar ao certo os minutos).
Agora restam umas
2 horas do dia para redigir minha crônica, além de jantar e tomar banho – não
sei em que ordem. Isso porque tive a firmeza de não ceder aos apelos dos amigos
carentes, coitados, de companhia em mesa de bar para assistir à quarta-feira
futebolística. Fui curto e grosso com eles: “Não vai dar! Tenho uma crônica pra
fazer, sem saber direito o que é ou como fazer. E é pra amanhã!” Eles ficaram
curiosos: “E você vai falar sobre o quê?” Minha resposta talvez não tenha sido
satisfatória: “Não sei. Ainda não defini. Só espero redigir um texto razoável,
que fale sobre alguma coisa, sem ser chato, enfadonho e prolixo”. E que tudo
acabe em 40 linhas e menos de 2 horas. Vamos lá! Quem mandou estudar e
trabalhar todo dia!? Espero conseguir, vontade não me falta. Só tempo...
3 comentários:
hahahah....
A bela crônica é aquela que nos faz sorrir um sorriso solto e despretensioso..
Abraço.
Neno.
Invariavelmente genial, Sérgio! Adorei!
Invariavelmente genial, Sérgio! Adorei!
Postar um comentário