Pilates: técnica de tortura pós-moderna que faz bem.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Buenos (y Belos) Aires
Estátua equestre de Manuel Belgrano, em frente à Casa Rosada. |
Uma capital distinta por suas
avenidas largas e arquitetura de
encher os olhos. Até parece que estamos introduzindo nossa Brasília, mas a hermana Buenos Aires tem as mesmas
características básicas, e muito mais. Pela
maior idade (e pela influência européia), a cidade apresenta mais estilos
arquitetônicos, além do modernista: neoclássico, neogótico, art deco e art
nouveu. Também tem mais parques, praças, pessoas e problemas - como toda
capital.
Dos problemas eu me mantive
distante, como bom turista a aproveitar sua última semana de viagem. Se os vi,
foi pela janela da microbus – que me
trouxe (sozinho, e de graça!) pelos 35 km do aeroporto de Ezeiza até a
movimentada Rua Florida, onde me
hospedei. Favelas são parecidas em qualquer lugar mundo, e geralmente estão
(foram) afastadas o suficiente para não incomodar os visitantes.
Caminhar pra conhecer
O Hostel Florida é um albergue com
estrutura maior que os convencionais, afinal, foi instalado em um antigo hotel
na rua que lhe dá nome. Por isso mesmo tem aspecto menos “intimista”, maior
número de hóspedes, funcionários e até banheiro dentro dos quartos. No meu,
estavam hospedados mais um brasileiro e dois “alemão”: um professor
universitário da Áustria e um jovem loiro de óculos geek – o Harry Potter da
Alemanha.
Segui a mesma estratégia de
turismo feita em Santiago. Prévia de distâncias dos percursos no Google Maps;
caminhadas solitárias durante o dia; retorno, descanso e socialização à noite.
A diferença dessa vez é que soltei mais a “cordinha de segurança imaginária” que
marcava o caminho de volta pro hostel e fiz caminhos mais longos e irregulares.
Com o mapinha das principais ruas e avenidas no bolso da bermuda, pude
acrescentar destinos e atrações não previstas na programação original do dia. Deste
modo percorri trechos de até mais de 10 km por “rolezinho”.
Foi assim já no primeiro dia
quando fui até a Plaza de Mayo, onde
estão importantes prédios públicos, incluindo a Casa Rosada. Sabia que o Porto
Madero era próximo e desci até lá. Andei, conheci, fotografei. Olhei no relógio,
tinha tempo. Olhei no mapa de bolso, tinha uma reserva ecológica perto. Só uma
voltinha nesse parque à beira do Rio da Prata acrescentou uns 5 km na conta de
passos. Na volta, pensei: “Por que não subir pelo histórico bairro de San
Telmo?!”
La Bombonera
Tava tão “bicho solto” na cidade
que até ônibus eu arrisquei pegar. Fui ao Estádio La Bombonera assim, depois de
passar pelo motorista aborrecido que até velhinha xingou (e a deixou de fora do
buzu). Alertas sobre o perigo do bairro La Boca, mesmo de dia, me fizeram
apressar os passos pelas ruas desertas até chegar ao Estádio. Lá dentro curti o
museu e o gramado visto da área geral inferior que fica atrás de um dos gols.
Mas queria mais. Abri uma porta
não vigiada que separava outros setores e percorri um labirinto de escadas e
corredores nas entranhas do estádio até avistar uma luz que revelava o acesso
às famosas arquibancadas superiores. Subi lá “encimão”. Lá é tão alto e íngreme
que dá certa vertigem. Fiz fotos panorâmicas enquanto imaginava aquilo tudo lotado.
Depois custei a achar o caminho de volta, mas consegui sair do estádio rumo ao
colorido conjunto de casas de El Caminito.
Turistão não!
Tentei não ser vítima dos
programas “pega-turista” que existem em qualquer lugar. O mais óbvio do tipo,
em Buenos Aires, é o jantar com tango. Pra quê pagar caro numa chatice de
jantar para ver tango se a bela dança pode ser apreciada em locais públicos!?
Eu mesmo preferi dar gorjeta aos dançarinos que movimentaram a charmosa Plaza Dorrego em San Telmo, enquanto
tomava uma ou duas cervejas por ali. Procurava seguir o que a população local
fazia, incluindo uma parada num café, livraria, ou até eventos públicos
inusitados como a corrida de kart num circuito montado em plena Avenida 9 de
Julho – onde fica o Obelisco.
Se tivesse que seguir um roteiro
tradicional, que fosse gratuito, como a visita ao cemitério da Recoleta. Ou que
fosse tradição minha, como ver jogo de futebol no estádio. Já que não tinha
mais rodadas do campeonato argentino para assistir de perto, o jeito foi
procurar bar especializado para acompanhar a final da Sulamericana. Bem na
região central encontrei o Tierra de Héroes, decorado com relíquias assinadas por jogadores do mundo todo. No bar
temático, porém, o jogo que chamava a atenção e estava na maioria dos telões
era a final do campeonato colombiano – que lotou a casa de torcedores nativos
do Millionarios.
Imprevistos
Quando fui conhecer os bosques de
Palermo, desci do ônibus na Plaza Italia e dei de cara com um Zoológico. Entrei,
por que não? Seria mais interessante percorrer os 1000m de distância até a
Avenida Libertador conhecendo animais do que vendo carros passar pela Avenida
Sarmiento. Só não esperava que o portão do outro lado estivesse fechado. Mas
valeu a pena ver de perto um urso polar, um condor, rinocerontes e tigres.
Já nos jardins e bosques, fui
surpreendido por uma chuva de verão que abalou minha resistência ao uso dos guarda-chuvas. O aguaceiro caiu no exato instante em que eu estava longe de
qualquer abrigo, isolado por longas avenidas e árvores nada copeiras. Cheguei ensopado
no destino seguinte, o Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA). Sequei-me
com um pouco de papel toalha do toalete. Na saída, dei de cara com os atores
Wagner Moura e Wladimir Brichta descendo a escada rolante do museu. Fiz cada um
tirar foto do outro comigo, usando meu celular. Depois da tietagem fui apreciar
as obras de arte e sabem quem eu ainda encontrei? “O Abaporu”, de Tarsila do
Amaral.
Os pés inchados da pintura me
lembraram que ainda tinha muito para caminhar. Com o sol de volta pude
experimentar novos trajetos, conhecer novas praças, avenidas ou ruelas, sem nunca
me cansar de me encantar com a verdadeira obra de arte da capital argentina: a
riquíssima arquitetura disponível para contemplação gratuita em construções
públicas ou particulares, em cada passo da cidade.
Todas as fotos feitas com um celular Sony Xperia Arc, em dezembro de 2011
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
O Deserto do Atacama
A paisagem vermelha e plana em volta do aeroporto de
Calama, no Chile, já me deixou entusiasmado a ponto de expressar um “UAU”
(mental), na saída do avião. Enquanto Roberto Carlos tocava no CD - player da
van que nos levava pelos 100km até San Pedro de Atacama, fiquei grudado no vidro igual
criança, de olhos bem abertos para o inédito. No caminho, o relevo já se apresentava
acidentado, o terreno rochoso; o vermelho dava espaço para o branco do sal e o
amarelo-claro da areia.
A vila de San Pedro de Atacama tem pouco mais de 2.500
habitantes e suas ruas são de terra batida. A circulação de carros é proibida
em algumas delas. Apesar de pequena, San Pedro é muito organizada e
sofisticada. Tem pracinha, igreja, casa de câmbio, museus e restaurantes, do pé
sujo ao chique. O povoado vive do turismo, graças a sua localização
estratégica, próximo às principais atrações do deserto – tal qual nossa vila de
São Jorge, em Goiás, pra quem deseja conhecer a Chapada dos Veadeiros.
Ainda “imitando” o vilarejo
goiano, o primeiro passeio clássico a ser feito é ao Vale da Lua. É recomendável
contratar excursão com guia e transporte. As agências de turismo formam os grupos
de interessados e pegam todos na porta das pousadas e albergues. Em pouco tempo
você está sacolejando ao lado de pessoas do mundo inteiro dentro de um
microônibus com suspensão ativa a caminho de um local surpreendente.
Antes de chegar ao Vale da Lua, passamos
pelo Vale da Morte e outras formações rochosas que servem de mirantes naturais. No deserto é possível contemplar os cânions, ou
passar por meio deles; escorregar pelas dunas gigantes e ouvir os estalidos de
sal expandindo no interior de rochedos vermelhos. A impressão – clichê, mas insistente
– é de estar em outra planeta. Mais
precisamente, na Marte de nosso imaginário alimentado por Hollywood ou pela
NASA.
Mas basta fazer os passeios às Lagunas Altiplânicas, Ojos del Salar ou aos Gêiseres del Tatio, para que o azul
refletido nas águas nos lembre que trata-se apenas de um paraíso na Terra, onde
até a vida prospera na forma de cactos, lhamas e flamingos. Confesso que os
Gêiseres me decepcionaram. Esperava ver água do fundo da terra jorrando no céu,
causando estrondo e pânico, chegando a 20 metros de altura, pelo menos. Mas o
que vi foi uma “fumacinha” suave e tranquila, o vapor de água quente resfriada
na saída das várias cavidades terrestres. Impressionante mesmo é frio de doer e
fazer careta, às 6 da manhã e a 4.300m de altitude. Na volta, tem banho em
águas termais, já com sol e temperatura mais aceitável. O melhor mesmo foi
conhecer o povoado Machuca, vivendo quase rusticamente no meio do
nada.
De todas as atrações a que eu mais
gostei foi a dos Ojos del Salar. Uma
combinação que começa na Laguna de Cejas,
passa pelos Ojos e termina na Laguna Tebinquiche. No primeiro lugar é
possível ficar “de boa na lagoa”, sem se afundar – graças à alta concentração
de sal na água, similar à do mar morto, que impede qualquer tentativa de
submersão. Já os Ojos são dois
laguinhos profundos de água doce, semelhantes em diâmetro, sozinhos na
imensidão de uma planície desértica.
Por último, dá pra caminhar
sobre as águas da extensa Laguna
Tebinquiche. Mais uma vez a mágica é explicada pelo sal, que agora
cristalizado, deixa toda a lagoa com a profundidade de alguns centímetros.
Após brincar de Jesus, voltei à margem para contemplar a paisagem. De um mesmo ponto dava pra mirar dois
cenários. De um lado a mistura de cores quentes e frias de um oásis no deserto.
Do outro, o contraste de luz e sombra provocado pelo Sol poente. No crepúsculo,
o Astro-rei deixou claro nossa insignificância no mundo.
Todas as fotos foram feitas com um celular Sony Xperia Arc em dezembro de 2011
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Santiago do Chile
Além do ineditismo no exterior, minha viagem pro Chile e
Argentina foi marcada por outros dois aspectos: o fato de eu ter ido sozinho; a falta de um roteiro pré-definido
ou mais detalhado. Apenas os grandes passos estavam acertados. O Chile veio na
frente graças à confirmação do jogo do Vasco em Santiago na semana em que se iniciavam
minhas férias. E também reservei mais tempo lá – duas semanas inteiras antes do
vôo para Buenos Aires – porque tinha o desejo de viajar pra outro lugar dentro
do país andino. Só não tinha decidido se ia ver gelo (Patagônia) ou areia
(Deserto do Atacama).
Então, lá estava eu, sozinho e sem saber o que fazer no meu
primeiro dia fora. Pedi conselhos ao pessoal do hostel, que ficava perto de
quase tudo. Segui à pé por 6 ruas até a Plaza de Armas de Santigo, onde
estão prédios históricos, a Catedral e muitos museus. Com todo o tempo do
mundo, podia entrar em cada um e contemplar o passado à vontade, sem pressa. Infelizmente
alguns estavam fechados para reforma, como o Museu de Pré História (justo o
mais recomendado por um amigo no Brasil).
O contemporâneo também chamava atenção. Pela familiaridade: praças, ruas e calçadas
pisoteadas por movimentos apressados de trabalhadores; anúncios de
multinacionais; bancos do Brasil e Itaú, Burger King e Mcdonalds; vira-latas dóceis
e espertos; Michel Teló por todo lado. As diferenças:
praças, ruas e calçadas limpas e bem cuidadas; casas de câmbio por todo lado;
Burger King servindo o prato mais anunciado dos restaurantes e lanchonetes
locais – pollo a lo pobre, ou basicamente,
frango com fritas; o nome massa dos vira-latas, callejero, derivado de calle
(rua); e muito vinho bom, de preço melhor ainda, para ajudar agüentar o Michel
Teló.
Às vezes o familiar e o diferente apareciam juntos. Salões
de beleza (que mais eram salinhas, de tão apertados) prometiam o “alisado
brasileño”. A poluição típica de uma grande cidade não deixou o turista aqui
admirar a distinta cordilheira dos Andes, pano de fundo da capital. No Mercado Central fedendo a peixe, um
garçom carioca tentou comprar minha presença à mesa de um restaurante na base
da conversa mole e de pisco sour. “Já
esxpirimentou? Toma aê, por conta da casa”. Tomei meu trago. Gostei do gosto do
destilado de uva e do limão no início. Odiei o gosto de ovo no final. Conversei
sobre como conseguir ingresso pro jogo do Vasco, agradeci e fui embora.
Tirando a urgência para comprar esse ingresso (já esgotado
nos setores populares) e decidir qual seria meu segundo destino dentro do
Chile, todos os dias em Santiago foram mais ou menos iguais e muito tranqüilos.
Acordava no limite para pegar o café da manhã do Hostel. Decidia meu destino
olhando panfletos turísticos ou conversando com alguém. Calculava distâncias e pontos de referências no Google Maps, e saía
a pé. Tinha dia que almoçava em lanchonete; outro que me dava ao luxo de um almoço
mais digno em algum café (e qualquer restaurante lá, mesmo pequeno, serve
sempre a refeição em 3 partes: entrada, prato principal e sobremesa).
À noite era hora de socializar com a comunidade internacional do albergue. Embora a maioria dos hospedes
fossem brasileiros, eu priorizava the
change of ideas com o pessoal de fora. Tinha francês falando português
melhor do que a gente. Neozelandês me perguntado sobre a situação imobiliária
em Roraima. Australianos querendo revanche na sinuca. Argentina em busca de
trabalho. Português querendo se mudar de vez para Santiago. Chilenas nos
colocando de graça nos pubs. Uruguaio querendo estudar. E uma mulher do
exército israelense, de folga, de quem eu nem ousei me aproximar.
Antes de deixar Santiago, meu segundo destino já estava
confirmado: San Pedro de Atacama. Pela internet mesmo reservei vôo e
hospedagem. Quase fui de buzão, mas 24hs previstas de viagem me desanimaram. E
o preço da passagem por uma pequena empresa aérea local era praticamente o
mesmo. Então lá fui eu, depois de um cancelamento
de voo (com pernoite e jantar grátis em hotel bacana da capital) rumo ao
norte do país. Ao meu lado, no avião, uma goteira me fez companhia.
sábado, 11 de janeiro de 2014
"És mi primera viaje internacional"
Adorava dizer isso aos anfitriões.
Primeiro aos chilenos; depois aos argentinos. Há pouco mais de dois anos, entre
novembro e dezembro de 2011, cruzei pela primeira
vez a fronteira do Brasil. Ok! Eu já tinha colocado os pés em outro país, o
Paraguai, mas foi tão rápido e por um motivo tão besta (fazer compras num
shopping com nome chinês e pessoas falando português nas lojas) que nem pude
considerar isso uma experiência internacional.
Ao aterrissar no “Aeropuerto” de
Santiago no Chile me senti – finalmente e orgulhosamente – um estranho. Pouco antes, enquanto sobrevoava os Andes, comecei a
perceber que estava, de fato, bem longe de casa (infelizmente a escuridão da
noite não me permitiu vislumbrar direito os famosos montes nevados). Comissários
de vôo já me perguntavam o que gostaria de jantar em espanhol. Aprendi ali que pollo era frango, e isso foi de grande
serventia no restante da viagem.
Nunca estudei espanhol. Acreditava
que o idioma fosse parecido demais
com o português para me preocupar. O livrinho de bolso que levei até me ajudou
a pedir o taxi para a calle certa,
onde ficava o albergue, mas daí em diante apanhei bastante. A começar pela
tentativa de puxar conversa sobre futebol com o taxista. Ele custou a entender
que el juego ao qual me referia era o que estava prestes a acontecer entre
Universidad de Chile e o meu Vascão, ali mesmo em Santiago. O diálogo correria mais fácil se eu soubesse que um
jogo de futebol é na verdade, e simplesmente, un partido.
Andes Hostel. Aqui fiz amigos e ensinei como se joga a sinuca brasileira |
No começo da madrugada ao hostel cheguei,
pero mi español foi-se embora de vez. O jovem que atendia do outro lado do
balcão interrompeu meu gaguejar e
avisou que eu poderia falar em português. Confirmei minha reserva. Fiquei mais
aliviado pela estréia bem sucedida do cartão de crédito internacional. Fiz
check-in e fui para o meu “quarto-cela” individual. O normal de um albergue é
dividir quarto com a galera (conhecida ou não). Mas na minha primeira noite
fora queria ter o sossego dos solitários.
Fiquei querendo. Meu quarto tinha
janela virada pra rua mais movimentada das redondezas. A região central e boêmia
não dormia tão cedo. Fiquei ali na cama, olhando pro teto, ouvindo barulho de
pessoas conversando, garrafas quebrando, caminhões de lixo e de bombeiros
passando. De manhã, acordei com barulho de obras e o sol que invadia o quarto.
O verão chileno é seco e quente, e nesse clima levantei, tomei café e saí pra
passear. Caminhando, conheci
lugares, pessoas e vivi situações que valem a pena compartilhar [em outros
textos; para você, de ler, não se enjoar].
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