terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Deserto do Atacama

A paisagem vermelha e plana em volta do aeroporto de Calama, no Chile, já me deixou entusiasmado a ponto de expressar um “UAU” (mental), na saída do avião. Enquanto Roberto Carlos tocava no CD - player da van que nos levava pelos 100km até San Pedro de Atacama, fiquei grudado no vidro igual criança, de olhos bem abertos para o inédito. No caminho, o relevo já se apresentava acidentado, o terreno rochoso; o vermelho dava espaço para o branco do sal e o amarelo-claro da areia.
A vila de San Pedro de Atacama tem pouco mais de 2.500 habitantes e suas ruas são de terra batida. A circulação de carros é proibida em algumas delas. Apesar de pequena, San Pedro é muito organizada e sofisticada. Tem pracinha, igreja, casa de câmbio, museus e restaurantes, do pé sujo ao chique. O povoado vive do turismo, graças a sua localização estratégica, próximo às principais atrações do deserto – tal qual nossa vila de São Jorge, em Goiás, pra quem deseja conhecer a Chapada dos Veadeiros.
Ainda “imitando” o vilarejo goiano, o primeiro passeio clássico a ser feito é ao Vale da Lua. É recomendável contratar excursão com guia e transporte. As agências de turismo formam os grupos de interessados e pegam todos na porta das pousadas e albergues. Em pouco tempo você está sacolejando ao lado de pessoas do mundo inteiro dentro de um microônibus com suspensão ativa a caminho de um local surpreendente.
Antes de chegar ao Vale da Lua, passamos pelo Vale da Morte e outras formações rochosas que servem de mirantes naturais.  No deserto é possível contemplar os cânions, ou passar por meio deles; escorregar pelas dunas gigantes e ouvir os estalidos de sal expandindo no interior de rochedos vermelhos. A impressão – clichê, mas insistente – é de estar em outra planeta.  Mais precisamente, na Marte de nosso imaginário alimentado por Hollywood ou pela NASA.

Mas basta fazer os passeios às Lagunas Altiplânicas, Ojos del Salar ou aos Gêiseres del Tatio, para que o azul refletido nas águas nos lembre que trata-se apenas de um paraíso na Terra, onde até a vida prospera na forma de cactos, lhamas e flamingos. Confesso que os Gêiseres me decepcionaram. Esperava ver água do fundo da terra jorrando no céu, causando estrondo e pânico, chegando a 20 metros de altura, pelo menos. Mas o que vi foi uma “fumacinha” suave e tranquila, o vapor de água quente resfriada na saída das várias cavidades terrestres. Impressionante mesmo é frio de doer e fazer careta, às 6 da manhã e a 4.300m de altitude. Na volta, tem banho em águas termais, já com sol e temperatura mais aceitável. O melhor mesmo foi conhecer o povoado Machuca, vivendo quase rusticamente no meio do nada.

De todas as atrações a que eu mais gostei foi a dos Ojos del Salar. Uma combinação que começa na Laguna de Cejas, passa pelos Ojos e termina na Laguna Tebinquiche. No primeiro lugar é possível ficar “de boa na lagoa”, sem se afundar – graças à alta concentração de sal na água, similar à do mar morto, que impede qualquer tentativa de submersão. Já os Ojos são dois laguinhos profundos de água doce, semelhantes em diâmetro, sozinhos na imensidão de uma planície desértica.


Por último, dá pra caminhar sobre as águas da extensa Laguna Tebinquiche. Mais uma vez a mágica é explicada pelo sal, que agora cristalizado, deixa toda a lagoa com a profundidade de alguns centímetros. Após brincar de Jesus, voltei à margem para contemplar a paisagem.  De um mesmo ponto dava pra mirar dois cenários. De um lado a mistura de cores quentes e frias de um oásis no deserto. Do outro, o contraste de luz e sombra provocado pelo Sol poente. No crepúsculo, o Astro-rei deixou claro nossa insignificância no mundo.



Todas as fotos foram feitas com um celular Sony Xperia Arc em dezembro de 2011

3 comentários:

chico macedo disse...

O Atacama é mais um cenário a conhecer. Como paisagem, parece diferente de tudo o que já vi.

Abraço, Chico.

Bruno Cameschi disse...

Caramba, não imaginava que era isso tudo. Apesar dos relatos similares (em alguns pontos) dos Andes Bolivianos, no livro Pelada, toda essa paisagem me surpreendeu. Não conhecia nada a respeito. Muito legal!

Tô esperando os relatos sobre a Argentina. Aí sim poderei dar uns pitacos (hehe). De qualquer forma, um relato de viagem parece ser mais interessante quando vc não conhece o lugar ainda. A novidade, mesmo em forma de texto, é sempre muito legal.

Abraço!

natália lambert disse...

Nossa, que saudades desse lugar!!! Depois do sorriso da minha filha, foi a coisa mais linda que eu já vi na vida. :)