Além do ineditismo no exterior, minha viagem pro Chile e
Argentina foi marcada por outros dois aspectos: o fato de eu ter ido sozinho; a falta de um roteiro pré-definido
ou mais detalhado. Apenas os grandes passos estavam acertados. O Chile veio na
frente graças à confirmação do jogo do Vasco em Santiago na semana em que se iniciavam
minhas férias. E também reservei mais tempo lá – duas semanas inteiras antes do
vôo para Buenos Aires – porque tinha o desejo de viajar pra outro lugar dentro
do país andino. Só não tinha decidido se ia ver gelo (Patagônia) ou areia
(Deserto do Atacama).
Então, lá estava eu, sozinho e sem saber o que fazer no meu
primeiro dia fora. Pedi conselhos ao pessoal do hostel, que ficava perto de
quase tudo. Segui à pé por 6 ruas até a Plaza de Armas de Santigo, onde
estão prédios históricos, a Catedral e muitos museus. Com todo o tempo do
mundo, podia entrar em cada um e contemplar o passado à vontade, sem pressa. Infelizmente
alguns estavam fechados para reforma, como o Museu de Pré História (justo o
mais recomendado por um amigo no Brasil).
O contemporâneo também chamava atenção. Pela familiaridade: praças, ruas e calçadas
pisoteadas por movimentos apressados de trabalhadores; anúncios de
multinacionais; bancos do Brasil e Itaú, Burger King e Mcdonalds; vira-latas dóceis
e espertos; Michel Teló por todo lado. As diferenças:
praças, ruas e calçadas limpas e bem cuidadas; casas de câmbio por todo lado;
Burger King servindo o prato mais anunciado dos restaurantes e lanchonetes
locais – pollo a lo pobre, ou basicamente,
frango com fritas; o nome massa dos vira-latas, callejero, derivado de calle
(rua); e muito vinho bom, de preço melhor ainda, para ajudar agüentar o Michel
Teló.
Às vezes o familiar e o diferente apareciam juntos. Salões
de beleza (que mais eram salinhas, de tão apertados) prometiam o “alisado
brasileño”. A poluição típica de uma grande cidade não deixou o turista aqui
admirar a distinta cordilheira dos Andes, pano de fundo da capital. No Mercado Central fedendo a peixe, um
garçom carioca tentou comprar minha presença à mesa de um restaurante na base
da conversa mole e de pisco sour. “Já
esxpirimentou? Toma aê, por conta da casa”. Tomei meu trago. Gostei do gosto do
destilado de uva e do limão no início. Odiei o gosto de ovo no final. Conversei
sobre como conseguir ingresso pro jogo do Vasco, agradeci e fui embora.
Tirando a urgência para comprar esse ingresso (já esgotado
nos setores populares) e decidir qual seria meu segundo destino dentro do
Chile, todos os dias em Santiago foram mais ou menos iguais e muito tranqüilos.
Acordava no limite para pegar o café da manhã do Hostel. Decidia meu destino
olhando panfletos turísticos ou conversando com alguém. Calculava distâncias e pontos de referências no Google Maps, e saía
a pé. Tinha dia que almoçava em lanchonete; outro que me dava ao luxo de um almoço
mais digno em algum café (e qualquer restaurante lá, mesmo pequeno, serve
sempre a refeição em 3 partes: entrada, prato principal e sobremesa).
À noite era hora de socializar com a comunidade internacional do albergue. Embora a maioria dos hospedes
fossem brasileiros, eu priorizava the
change of ideas com o pessoal de fora. Tinha francês falando português
melhor do que a gente. Neozelandês me perguntado sobre a situação imobiliária
em Roraima. Australianos querendo revanche na sinuca. Argentina em busca de
trabalho. Português querendo se mudar de vez para Santiago. Chilenas nos
colocando de graça nos pubs. Uruguaio querendo estudar. E uma mulher do
exército israelense, de folga, de quem eu nem ousei me aproximar.
Antes de deixar Santiago, meu segundo destino já estava
confirmado: San Pedro de Atacama. Pela internet mesmo reservei vôo e
hospedagem. Quase fui de buzão, mas 24hs previstas de viagem me desanimaram. E
o preço da passagem por uma pequena empresa aérea local era praticamente o
mesmo. Então lá fui eu, depois de um cancelamento
de voo (com pernoite e jantar grátis em hotel bacana da capital) rumo ao
norte do país. Ao meu lado, no avião, uma goteira me fez companhia.
2 comentários:
Sérgio,
A riqueza cultural da América do Sul é incrível. As viagens que fiz para Chile e Peru foram das melhores experiências que tive. Tenho vontade de voltar e incluir na lista:
- Bogotá e o caribe colombiano.
- Buenos Aires e Mendoza.
- Montevidéu
- Caracas
Sem contar nossos amigos mexicanos da parte de cima da América.
Abraço, Chico.
Muito show!
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