terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Buenos (y Belos) Aires

 Estátua equestre de Manuel Belgrano, em frente à Casa Rosada.
Uma capital distinta por suas avenidas largas e arquitetura de encher os olhos. Até parece que estamos introduzindo nossa Brasília, mas a hermana Buenos Aires tem as mesmas características básicas, e muito mais.  Pela maior idade (e pela influência européia), a cidade apresenta mais estilos arquitetônicos, além do modernista: neoclássico, neogótico, art deco e art nouveu. Também tem mais parques, praças, pessoas e problemas - como toda capital.
Dos problemas eu me mantive distante, como bom turista a aproveitar sua última semana de viagem. Se os vi, foi pela janela da microbus – que me trouxe (sozinho, e de graça!) pelos 35 km do aeroporto de Ezeiza até a movimentada Rua Florida, onde me hospedei. Favelas são parecidas em qualquer lugar mundo, e geralmente estão (foram) afastadas o suficiente para não incomodar os visitantes.

Caminhar pra conhecer
O Hostel Florida é um albergue com estrutura maior que os convencionais, afinal, foi instalado em um antigo hotel na rua que lhe dá nome. Por isso mesmo tem aspecto menos “intimista”, maior número de hóspedes, funcionários e até banheiro dentro dos quartos. No meu, estavam hospedados mais um brasileiro e dois “alemão”: um professor universitário da Áustria e um jovem loiro de óculos geek – o Harry Potter da Alemanha.
Segui a mesma estratégia de turismo feita em Santiago. Prévia de distâncias dos percursos no Google Maps; caminhadas solitárias durante o dia; retorno, descanso e socialização à noite. A diferença dessa vez é que soltei mais a “cordinha de segurança imaginária” que marcava o caminho de volta pro hostel e fiz caminhos mais longos e irregulares. Com o mapinha das principais ruas e avenidas no bolso da bermuda, pude acrescentar destinos e atrações não previstas na programação original do dia. Deste modo percorri trechos de até mais de 10 km por “rolezinho”.
Foi assim já no primeiro dia quando fui até a Plaza de Mayo, onde estão importantes prédios públicos, incluindo a Casa Rosada. Sabia que o Porto Madero era próximo e desci até lá. Andei, conheci, fotografei. Olhei no relógio, tinha tempo. Olhei no mapa de bolso, tinha uma reserva ecológica perto. Só uma voltinha nesse parque à beira do Rio da Prata acrescentou uns 5 km na conta de passos. Na volta, pensei: “Por que não subir pelo histórico bairro de San Telmo?!”

La Bombonera
Tava tão “bicho solto” na cidade que até ônibus eu arrisquei pegar. Fui ao Estádio La Bombonera assim, depois de passar pelo motorista aborrecido que até velhinha xingou (e a deixou de fora do buzu). Alertas sobre o perigo do bairro La Boca, mesmo de dia, me fizeram apressar os passos pelas ruas desertas até chegar ao Estádio. Lá dentro curti o museu e o gramado visto da área geral inferior que fica atrás de um dos gols.
Mas queria mais. Abri uma porta não vigiada que separava outros setores e percorri um labirinto de escadas e corredores nas entranhas do estádio até avistar uma luz que revelava o acesso às famosas arquibancadas superiores. Subi lá “encimão”. Lá é tão alto e íngreme que dá certa vertigem. Fiz fotos panorâmicas enquanto imaginava aquilo tudo lotado. Depois custei a achar o caminho de volta, mas consegui sair do estádio rumo ao colorido conjunto de casas de El Caminito.
Turistão não!
Tentei não ser vítima dos programas “pega-turista” que existem em qualquer lugar. O mais óbvio do tipo, em Buenos Aires, é o jantar com tango. Pra quê pagar caro numa chatice de jantar para ver tango se a bela dança pode ser apreciada em locais públicos!? Eu mesmo preferi dar gorjeta aos dançarinos que movimentaram a charmosa Plaza Dorrego em San Telmo, enquanto tomava uma ou duas cervejas por ali. Procurava seguir o que a população local fazia, incluindo uma parada num café, livraria, ou até eventos públicos inusitados como a corrida de kart num circuito montado em plena Avenida 9 de Julho – onde fica o Obelisco.

Se tivesse que seguir um roteiro tradicional, que fosse gratuito, como a visita ao cemitério da Recoleta. Ou que fosse tradição minha, como ver jogo de futebol no estádio. Já que não tinha mais rodadas do campeonato argentino para assistir de perto, o jeito foi procurar bar especializado para acompanhar a final da Sulamericana. Bem na região central encontrei o Tierra de Héroes, decorado com relíquias assinadas por jogadores do mundo todo. No bar temático, porém, o jogo que chamava a atenção e estava na maioria dos telões era a final do campeonato colombiano – que lotou a casa de torcedores nativos do Millionarios.
Imprevistos
Quando fui conhecer os bosques de Palermo, desci do ônibus na Plaza Italia e dei de cara com um Zoológico. Entrei, por que não? Seria mais interessante percorrer os 1000m de distância até a Avenida Libertador conhecendo animais do que vendo carros passar pela Avenida Sarmiento. Só não esperava que o portão do outro lado estivesse fechado. Mas valeu a pena ver de perto um urso polar, um condor, rinocerontes e tigres.

Já nos jardins e bosques, fui surpreendido por uma chuva de verão que abalou minha resistência ao uso dos guarda-chuvas. O aguaceiro caiu no exato instante em que eu estava longe de qualquer abrigo, isolado por longas avenidas e árvores nada copeiras. Cheguei ensopado no destino seguinte, o Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA). Sequei-me com um pouco de papel toalha do toalete. Na saída, dei de cara com os atores Wagner Moura e Wladimir Brichta descendo a escada rolante do museu. Fiz cada um tirar foto do outro comigo, usando meu celular. Depois da tietagem fui apreciar as obras de arte e sabem quem eu ainda encontrei? “O Abaporu”, de Tarsila do Amaral.

Os pés inchados da pintura me lembraram que ainda tinha muito para caminhar. Com o sol de volta pude experimentar novos trajetos, conhecer novas praças, avenidas ou ruelas, sem nunca me cansar de me encantar com a verdadeira obra de arte da capital argentina: a riquíssima arquitetura disponível para contemplação gratuita em construções públicas ou particulares, em cada passo da cidade.

Todas as fotos feitas com um celular Sony Xperia Arc, em dezembro de 2011

4 comentários:

Bruno Cameschi disse...

Show!

Dos lugares que vc mencionou, só não fomos no MALBA.

Dos que vc não citou (não sei se vc foi?), fomos ao planetário (próximo ao zoológico e praticamente dentro dos bosques de Palermo); ao Jardim Japonês (nessa mesma área); no Palácio do Congresso (lindo prédio ao final da Avenida de Mayo); no Teatro Colón (com visita guiada e tudo); na Plazoleta Julio Cortázar (mais conhecida como Palermo Soho). Esta pracinha reúne dezenas de bares descolados e é, segundo relatos, o principal lugar de badalação da cidade. Badalações a parte, gostamos tanto que fomos duas vezes lá.

Compras fizemos algumas na Florida (mais cara e turistosa) e outras na Avenida Córdoba (a rua das outlets, essa com ótimos preços). Rolou também um rolé na calle Murillo (a outlet dos couros).

Quanto à comida, tudo que comemos foi bom. Destaque para o Palacio de las papas fritas (Corrientes con Montevideo). Mas o curioso é que o melhor lugar que comemos foi num café despretensioso chamado London City. Fica na Avenida de Mayo. Entramos lá porque depois de um dia de muito rolezinho estávamos varados de fome. Foi um tiro certeiro, tanto que depois voltamos lá outra vez. Além disso, jantamos em Puerto Madero ("tão romântico"!, como diria Laura do Carrossel), onde fomos servidos pelo primo do zagueiro Victorino.

Quando vc foi a San Telmo era domingo? Porque domingo rola a famosa feira de antiguidades. Foi o que fizemos. Na real, achei a feira bem sem graça. Mas, como vc bem disse, foi um programa "turistoso gratuito", aí valeu a pena.

Vc fez um diário? Ou lembrou tudo de memória mais de dois anos depois?

Abraço!




Sérgio Bertoldi disse...

Brunão, muito bom seu comentário pois ele acrescenta coisas que deixei de fora. Essa Plazoleta de Palermo onde tem vários bares, acho que eu fui, pouco antes de me meter num "baile de hip-hop" no meu último dia completo lá.

Como era um caso à parte, e muito específico (e como o texto já estava enorme, decidi cortar e quem sabe escrever num outro post).
Daí no domingo (dia seguinte) de manhã tinha Santos e Barcelona, que eu mal consegui ver por ter varado a noite. Consequentemente não fui à feira de antiguidades, mas tava querendo ir.

Acabou q San Telmo foi o bairro que mais passei por, nas andanças, e o que eu mais gostei (mesmo não tendo nada demais). Talvez por isso, por ele é simples e velho.

Sobre o Palácio do Congresso, excelente mencionar tb. Lembro q tava de bobeira numa tarde e fui até lá só pra vê-lo. Mas tinha muitos carros e caminhões na frente, o que prejudicou um pouco o ângulo da foto que eu fiz. Ainda quase coloquei como imagem de capa do texto, mas caiu na hora da edição. Daí pela falta de espaço e estrutura do blog acabei deixando de fora (até pela qualidade prejudicada da foto)

Eu não fiz um diário (o que me arrependo, já que facilitaria o trabalho do relato depois), mas lembro da maioria das coisas, dos passeios, das sequências e o que aconteceu num dia como o da Chuva em Palermo.

Algumas coisas eu procurei e confirmei, principalmente os nomes e alguns detalhes (como o da estátua) no google.

Outra coisa que me ajudou foi passar pelas fotos no celular. Como estão na sequência, ativam as memórias.

Mas infelizmente, na hora que o texto acontece, coisas importantes ficam de fora. Eis a difícil arte de editar.

Bruno Cameschi disse...

Legal!

Outras três coisas legais também que conhecemos:

1) O shopping Galeria Pacífico (acho que era este o nome). Vc deve ter ido, pois fica na calle Florida. É um shopping que fica numa edificação de arquitetura bastante pomposa e imponente, daí seu charme.

2) Livraria O Ateneo. Fica na Av. Santa Fé (bem pertinho do hotel em que ficamos). É uma livraria que fica dentro de um antigo teatro. É bonito pra caramba lá dentro.

3) Café Tortoni. Fica na Av. de Mayo (vc deve ter ido também). É a confeitaria Colombo deles. Mas na real, acho a Colombo melhor. Tanto a comida como o local em si.

Uma dica final (nesse caso pra suas futuras viagens). Nas nossas duas viagens pela América do Sul (Buenos Aires e Montevidéu) optamos em ficar em bairros mais residenciais (fugimos do centro). No caso de Buenos Aires ficamos na Recoleta. Qual a vantagem disso? A gente se sente um turista mais dentro dos hábitos locais (vive mais a cidade de verdade, seu dia a dia, saca?). Tipo: vê a tiazinha com sacolinhas de compra do supermercado do bairro; o tiozinho passeando com seu cachorro; compra coisas na merceariazinha do chinês da rua; foge do assédio ininterrupto dos "caçadores" de turistas, sempre de plantão nos centros das cidades. É claro que o centro sempre tem muitas atrações também. Daí acho que o ideal é ficar num bairro mais ou menos perto do centro, caso da Recoleta. O preço do hotel geralmente é pouquinha coisa só mais caro. Acho que vale a pena. Mas enfim, é só uma dica.

Abraço!

Sérgio Bertoldi disse...

Por falar em assédio, ali mesmo na Florida a "máfia chinesa" tentou me cooptar pra uma casa de luxúria. Uma chinesinha me viu sozinho lá e veio em cima. Falei q não podia e tal pq minha mulher (imaginária) estava me esperando no hotel. Hehe

Com certeza fui nesses cafés aí. Shopping eu acho q pisei nesse da Florida, mas não comprei nada. Aliás, voltei pra casa só com uns imãs de geladeira e um cachecol e gorro comprado às pressas pra enfrentar o frio dos gêiseres no Chile.