quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Santiago do Chile




Além do ineditismo no exterior, minha viagem pro Chile e Argentina foi marcada por outros dois aspectos: o fato de eu ter ido sozinho; a falta de um roteiro pré-definido ou mais detalhado. Apenas os grandes passos estavam acertados. O Chile veio na frente graças à confirmação do jogo do Vasco em Santiago na semana em que se iniciavam minhas férias. E também reservei mais tempo lá – duas semanas inteiras antes do vôo para Buenos Aires – porque tinha o desejo de viajar pra outro lugar dentro do país andino. Só não tinha decidido se ia ver gelo (Patagônia) ou areia (Deserto do Atacama).

Então, lá estava eu, sozinho e sem saber o que fazer no meu primeiro dia fora. Pedi conselhos ao pessoal do hostel, que ficava perto de quase tudo. Segui à pé por 6 ruas até a Plaza de Armas de Santigo, onde estão prédios históricos, a Catedral e muitos museus. Com todo o tempo do mundo, podia entrar em cada um e contemplar o passado à vontade, sem pressa. Infelizmente alguns estavam fechados para reforma, como o Museu de Pré História (justo o mais recomendado por um amigo no Brasil).

O contemporâneo também chamava atenção. Pela familiaridade: praças, ruas e calçadas pisoteadas por movimentos apressados de trabalhadores; anúncios de multinacionais; bancos do Brasil e Itaú, Burger King e Mcdonalds; vira-latas dóceis e espertos; Michel Teló por todo lado. As diferenças: praças, ruas e calçadas limpas e bem cuidadas; casas de câmbio por todo lado; Burger King servindo o prato mais anunciado dos restaurantes e lanchonetes locais – pollo a lo pobre, ou basicamente, frango com fritas; o nome massa dos vira-latas, callejero, derivado de calle (rua); e muito vinho bom, de preço melhor ainda, para ajudar agüentar o Michel Teló.

Às vezes o familiar e o diferente apareciam juntos. Salões de beleza (que mais eram salinhas, de tão apertados) prometiam o “alisado brasileño”. A poluição típica de uma grande cidade não deixou o turista aqui admirar a distinta cordilheira dos Andes, pano de fundo da capital. No Mercado Central fedendo a peixe, um garçom carioca tentou comprar minha presença à mesa de um restaurante na base da conversa mole e de pisco sour. “Já esxpirimentou? Toma aê, por conta da casa”. Tomei meu trago. Gostei do gosto do destilado de uva e do limão no início. Odiei o gosto de ovo no final. Conversei sobre como conseguir ingresso pro jogo do Vasco, agradeci e fui embora.

Tirando a urgência para comprar esse ingresso (já esgotado nos setores populares) e decidir qual seria meu segundo destino dentro do Chile, todos os dias em Santiago foram mais ou menos iguais e muito tranqüilos. Acordava no limite para pegar o café da manhã do Hostel. Decidia meu destino olhando panfletos turísticos ou conversando com alguém. Calculava distâncias e pontos de referências no Google Maps, e saía a pé. Tinha dia que almoçava em lanchonete; outro que me dava ao luxo de um almoço mais digno em algum café (e qualquer restaurante lá, mesmo pequeno, serve sempre a refeição em 3 partes: entrada, prato principal e sobremesa).

À noite era hora de socializar com a comunidade internacional do albergue. Embora a maioria dos hospedes fossem brasileiros, eu priorizava the change of ideas com o pessoal de fora. Tinha francês falando português melhor do que a gente. Neozelandês me perguntado sobre a situação imobiliária em Roraima. Australianos querendo revanche na sinuca. Argentina em busca de trabalho. Português querendo se mudar de vez para Santiago. Chilenas nos colocando de graça nos pubs. Uruguaio querendo estudar. E uma mulher do exército israelense, de folga, de quem eu nem ousei me aproximar.

Antes de deixar Santiago, meu segundo destino já estava confirmado: San Pedro de Atacama. Pela internet mesmo reservei vôo e hospedagem. Quase fui de buzão, mas 24hs previstas de viagem me desanimaram. E o preço da passagem por uma pequena empresa aérea local era praticamente o mesmo. Então lá fui eu, depois de um cancelamento de voo (com pernoite e jantar grátis em hotel bacana da capital) rumo ao norte do país. Ao meu lado, no avião, uma goteira me fez companhia.

2 comentários:

chico macedo disse...

Sérgio,

A riqueza cultural da América do Sul é incrível. As viagens que fiz para Chile e Peru foram das melhores experiências que tive. Tenho vontade de voltar e incluir na lista:

- Bogotá e o caribe colombiano.
- Buenos Aires e Mendoza.
- Montevidéu
- Caracas

Sem contar nossos amigos mexicanos da parte de cima da América.

Abraço, Chico.

Bruno Cameschi disse...

Muito show!